Frutos não só pandêmicos
Um dia incomum pela tortuosa vontade de escapar da dor. Reconheço a probabilidade desse prazo de validade, mas embrulho-me na timidez angustiante com a noção de que a ardência não deixará seu peso e sua presença num tempo curto. E Tenho pressa. Pressa pros meus olhos visualizarem beleza na rotina e buscarem alternativas. Se os sentidos dessas palavras fizerem-se tão identificáveis, por que a surpresa notável até em meu físico? Nos braços, arrepios. Nas mãos, calafrios e no corpo todo, ó Deus, frustrações. Salve-me enquanto a loucura não domina minhas ações e enquanto o temor não conduz meus pensamentos na constância com que intimida a sociedade. São tempos pandêmicos. Vejo a morte bater na porta e ir embora a cada vez que a ciência mostra amparo. Ouço latidos ilógicos dos que recusam a vida e aprovam ilusões obsoletas. Sinto. Sinto muito. Pena, dor e medo. Antes fosse só isso. Sinto tanto que desconheço vocabulário, porque ele tenta e se aproxima, mas tentando, falha. Falha miseravelmente, porque não repassa o obscuro das impressões pessoais.
Aos que na arte enxergam estranheza e exagero: não vale a pena persistir na leitura sem que ela seja sentida. Não vale a pena, porque o movimento cíclico com que suas ideias se ordenam, impede qualquer possibilidade de inovação, qualquer anseio por aprendizado e qualquer maneira ridícula, de tão ínfima, de desviar-se do confortável costume. Sim. Confortável. Se fôssemos finitos e limitados na coragem e na evolução, a escrita que aqui lhe serve, inexistiria, mas talvez poderíamos reconhecer algo a mais, se o apego ao passado não se situasse nessa mentalidade retrógrada e tenebrosa que vive mendigando aplausos ignorantes.