despertar - Ato VI

herdeiro de si mesmo

quando então desvelou os olhos seus,

o mundo inteiro ressignificou-se.

a cada metro, nos gestos das mãos, dos lábios,

antenas de tv, livros;

o mundo explodiu e suas vísceras

exalavam um cheiro sem cavilação.

ele abriu a janela da alma.

entendeu que o logos deve instruir os sentidos.

preparou seu caminho,

destrinchou qualquer sistema global de coisas.

ele é aquele que as pessoas cumprimentam,

sem saber que na relação de ideias,

de toda forma de comunicação, no sexo, no funeral,

nas bolsas de valores, na expressão azul do céu,

com nossas expressões confusas,

ele se supera, se redime,

é vencedor de si mesmo.

em certo estágio, um empecilho emergiu

de suas pedras e solos íngremes.

(ele evita a condição de inseto,

orbitando sedutora e mortal luz.)

o empecilho sobrevoou a atmosfera

de sua mente

esperando que ele se rendesse.

seus apetites o esfolavam até abrir um céu

em sua testa e genitais.

mas agora ele tem olhos de ver!

ele é ser. e ser é coisa indivisível

erguendo liberdade em si.

só o que é universal e necessário

liberta o ser.

tão logo destrinchou o empecilho

para dar-lhe causa.

eram virtudes latentes em si,

qual semente esperando o correto semear.

ele então sorriu para as coisas novas daquele momento.