Sementes de hoje. Flores do amanhã
Há uma sabedoria chinesa que diz assim: “Todas as flores do futuro são as sementes de hoje”. Você deve concordar comigo se eu disser que as flores são belas, garantem colorido à vida e exalam um perfume que faz os dias mais inspiradores, que nos trazem lembranças agradáveis e nos fazem pensar em situações especiais que vivemos ou vamos viver. O que não imaginamos é que aquelas flores tão bem ornamentadas pela natureza, com uma beleza tão própria, singular e ímpar um dia foram uma sementinha para a qual talvez não déssemos valor. Aliás, quando olhamos para uma semente vemos apenas isso, não paramos para pensar na potencialidade daquilo que parece tão pequeno, tão frágil e tão vulnerável, mas que com o tempo e sendo bem cuidado um dia se transforma em algo que faz apaixonados suspirarem e poetas escreverem. Podemos ser como essas sementes. Na verdade já somos como elas. O problema é que não entendemos isso.
Não adianta. Para que o futuro aconteça o presente precisa ser vivido. Às vezes eu penso que o futuro é apenas uma construção que fazemos diariamente. É como um agricultor. Se ele simplesmente cruzar os braços diante de um pedaço de terra, o máximo que pode conseguir é um matagal sem serventia. Não lhe basta olhar para a terra, agradecer pela chuva e desejar que ali prospere suas hortaliças se ele não cultivou nada para isso. O bom agricultor pega sua enxada e vai trabalhar. Prepara a terra. Fertiliza-a se assim for necessário. Então cava alguns buracos. Não joga a semente de qualquer forma para ver no que dá. Ele a cobre com cautela. Atenta-se para que nada obstrua o caminho que precisará ser percorrido. E todos os dias ele acompanha o andamento de sua tarefa. Em alguns será necessário regar por conta própria, em outros terá que se abaixar para remover alguma sujeira que veio com o vento, e ainda terá aqueles dias nos quais ele poderá observar a chuva molhar a terra que ele mesmo preparou. Finalmente, em um belo amanhecer ou num primoroso entardecer, eis que ele contempla o brotinho. Novo ainda. Frágil. Dependente de cuidados. Isso serve de ânimo para o agricultor que precisará de um pouco mais de paciência a fim de vislumbrar o resultado final daquela sementinha tão ameaçada ao mesmo tempo em que era capaz de algo extraordinário desde que tivessem cuidado e perseverança com ela.
Nas nossas vidas às vezes queremos as grandes conquistas. Olhamos para o futuro como se ele fosse nos trazer algo surreal, que transformasse nossos dias para sempre. Mas isso não acontece magicamente. Uma árvore não nasce e não prospera se não tivesse o seu começo, se a sua sementinha não tivesse sido bem plantada, se algum pássaro faminto, vendo a semente largada em qualquer canto, tivesse se aproveitado de sua vulnerabilidade. A vida não é mágica. Ela é real. E a realidade não costuma ser como as fantasias que criamos em nossa mente. Para que o futuro seja agradável, para que tenhamos algo de bom a colher nele, precisamos cultivar hoje. Não apenas lançar nossas sementes por aí. Mas preparar a terra, ter atenção na hora de nela plantar, manter a cautela enquanto o brotinho cresce para que nada o atrapalhe, para que opiniões alheias não limitem o seu tamanho, para que invejas descaradas não arrancem suas folhas antes do tempo. É assim que vamos conquistar um futuro esplêndido. Talvez não seja o futuro perfeito, aliás, não deveríamos almejar por perfeição. Que tal se simplesmente esperássemos por um futuro melhor? Por um amanhã melhor do que o hoje? Assim nos cobraríamos menos. Faríamos o que estivesse ao nosso alcance e não nos condenaríamos por não termos alcançado uma meta inatingível. Ao contrário. O melhor do nosso esforço resultaria num passo melhor e mais firme a cada amanhecer até que finalmente pudéssemos ter entre os braços o motivo da nossa caminhada.
Plante hoje. Cuide constantemente. E desfrute de uma sombra fresca num futuro que se aproxima!
(Texto de @Amilton.Jnior)