Mutilação
Tudo está cinza evoluindo para o negrume. Não há cor para ter imaginação - essa sempre escura, só ouve ruídos dela. Sempre o mesmo sentimento, sem ânimo para mudá-lo, sem forças para tal e mais nada. Envolto de uma aura sombria e capaz de espantar o mais reluzente dos seres humanos. A mudança veio numa noite chuvosa e de um escuro que originou o presente em sua mente. Daí as águas descoloriram suas vestes e sua alma, fazendo escorrer a tintura pelos córregos e sumir num bueiro qualquer. Tomou a escuridão e vestiu. Sem saber, naqueles primeiros instantes, qual decisão tomar: a revolta ou a tristeza? Logo essa armadilha tornou-se inútil e tal situação mostrou sua verdadeira intenção: tomando-o por inteiro a segunda opção. Agora lá, imóvel, não sabe mais nem se vive. Se vive, é para morrer mais e mais. Se culpa por não haver mais lágrimas para chorar, resolve se mutilar: então chora o corpo. Não sabendo mais nem qual a razão de tudo aquilo. Punição? Consolação? Anseio pelo fim? Só vê as gotas escorrerem e vê-se até entretido com aquilo. Renega a lógica. Renega a vida. Desconhece a dicotomia da tristeza e da alegria.