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Um dos maiores males do século é, sem a menor dúvida, o que chamamos de ansiedade. Não estou falando da ansiedade patológica em si. Falo dessa angústia, desse aperto, desse medo que temos pelo amanhã, pelo porvir, pelo futuro que tanto cobiçamos. O estilo de vida que temos adotado tem nos feito desejar sempre pelo que virá depois, pelos resultados, pelas consequências, nunca pelos momentos presentes, pelos caminhos que temos a percorrer, pelo percurso que precisamos atravessar até o destino, o objetivo, o tão almejado sonho que um dia sonhamos. Vivemos estressados, afobados, preocupados pelo que será e nos esquecemos daquilo que é. Daquilo que temos. Daquilo que podemos usufruir aqui e agora. Desejar apenas pelo que poderemos ter é um erro grotesco que seres inteligentes, racionais, cometem sem nem perceber. Precisamos despertar para a vida. Pelo que ela está proporcionando. O futuro pode nunca acontecer e, mesmo que aconteça, não será como idealizamos.

E nessa ânsia desenfreada pelo amanhã, não apreciamos os presentes que a vida tem colocado no nosso caminho. Quantas pessoas interessantes deixamos de conhecer porque andamos por aí adoidados, sem prestar atenção na paisagem, sem degustar um pouco do que está aí para ser saboreado? Perdemos a chance de acompanhar o crescimento de uma flor, a transformação do cenário e até mesmo o crescimento dos nossos filhos porque vivemos uma vida atolada de preocupações que nos dirigem apenas para o porvir. Isso é desperdício de vida. Atolar-se de compromissos a resolver não é sinônimo de eficácia ou competência, talvez seja sinônimo de ignorância porque ignoramos tudo o que temos para cobiçar o que ainda não possuímos, que talvez nem necessitamos, mas que cobiçamos por vivermos ansiosos pelas novidades, pelas atualizações, esquecendo-nos de que a vida não faz download, não se atualiza, ela passa e acaba, e quando acabar não dará direito ao replay.

Vivemos naquela expectativa pelas coisas, uma expectativa que distorce a realidade, que limita nossa visão, que não nos deixa perceber que nossas conquistas podem ser muito maiores e mais significativas, basta que tenhamos esperança. Quem espera com paciência não quer apressar as coisas, não tenta o impossível, não idealiza romper a atmosfera e fazer a Terra girar mais rápido. Quem espera com esperança, sem expectativas, presta atenção no caminho em que trilha, atenta-se a cada pequenino detalhe, permite-se a ser surpreendido pelas possibilidades da vida e até muda de destino porque pode descobrir no caminho um novo motivo para sorrir, uma nova razão para viver, novidades até melhores do que aquela preconcepção tão limitada sobre aquilo que queria conquistar. Quanto àquele que se enche de expectativas e firma-se nelas, pode acabar frustrado. Talvez o destino não fosse tão belo e as oportunidades que deixou passar jamais retornarão. A ansiedade nos faz cometer tais erros. Ficamos cegos para o presente e enfeitiçados por um amanhã que nunca chega.

Já percebeu que o futuro continua sempre sendo futuro? Nunca nos damos por satisfeitos, nunca nos damos por realizados, por atendidos. Compramos um celular hoje, mas amanhã já estaremos deslizando o dedo por sites que exibem novos modelos. E vivemos nessa ânsia infinita pelo porvir, pelo que virá depois, não aproveitamos o que temos de concreto, o que pode de fato ser aproveitado e vivido. Olhe para a vida nesse momento. Olhe-a como ela é. Não queira mudá-la, transformá-la, antes aprecie como ela se apresenta nesse instante precioso. Um dia ela poderá estar diferente e aí só restarão lembranças das coisas que um dia ela foi. E essas coisas poderão causar uma sofrida saudade, sobretudo quando não foram aproveitadas, quando negligenciamos o presente por um futuro incerto.

(Texto de @Amilton.Jnior)