broto
Enfim, parece que estou caminhando para meu amadurecimento, ou pelo menos, levando mais a sério essa busca pelo autoconhecimento. É muito difícil. Tem várias fases. Tem várias coisas boas e ruins. Como está sendo novo pra mim, tem me entusiasmado bastante.
O engraçado é que se misturam passado, presente, com vistas a um possível futuro. Um desejo de reviver antigos sonhos. Reviver, não. Revisitar. É impossível reviver. Mas a possibilidade de misturar presente e passado e futuro me dá a incrível sensação da emoção.
É como se eu estivesse renascendo, tirando o atraso, fazendo o que não fiz porque nunca soube fazer, ou deixei latente em algum canto destinado a desejos para mais tarde. E quando falo em desejos, refiro-me ao mais simples e puro desejo: escolher o próprio livro, destinar segundos para pensamentos vazios, sentir sabor dos alimentos como se fosse a primeira vez...dormir sete horas seguidas.
Hoje posso olhar minhas novas marcas no rosto, que se acentuam quanto mais se aproxima o dia 12... Mas isso não me exaspera mais. Pelo rosto e corpo estão todas conquistas temporárias para esta minha passagem pela vida. Já minha alma, esta sim, tem requerido maior atenção.
Mal sabia o quão doloroso seria o brotar, o simples gesto de sentir o sol ardendo nos olhos que lacrimejam sua fotossíntese. Espreguiçar os ramos em direção ao sol não é tarefa fácil, requer força e cuidados. A sede pede água. Na medida certa. Na ânsia beduína posso me sufocar na raiz encharcada.
Há tantas direções a seguir mas escolho o sol, manter-me ereta ainda que frágil, me sustentando num ramo raquítico e tenro. Às vezes me esqueço ali. Num verde-claro brilhante, o verde da esperança e da vida, e de repente brotar já não dói tanto assim.
Hoje foi dia de chuva e me dei um descanso. Amanhã, já nos primeiros sinais da luz soberana, recomeço meu crescimento incômodo imaginando que uma brisa pode, de repente, me distrair, retirando-me por segundos dessa máquina que processa minha forma e meus galhinhos pueris, para então devolver-me à condição do broto, que a cada dia se torna mais duro, mais forjado na rude necessidade de viver.