Onipresença
Está lá e aqui. Foi, mas ficou. Apesar das repetidas despedidas, permanece! Está na parede, nos livros, no guarda-roupa, no chão, no celular, no computador, no banheiro, nos quartos, na cozinha, nas roupas, na cama. Enfim, não há como dizer que ela se foi, mas tampouco é racional afirmar que aqui ela se encontra. Está longe seu olhar, mirando outras paisagens, quem sabe até encantando-se com alguma novidade do coração. Certo é que está presente, mesmo ausente de corpo. Por vezes um cheiro traz essa presença física, por vezes uma voz reafirma que há diferentes tipos de presença. Não sei, confesso, se decido pela presença ou pela ausência, dado que se ela não toca hoje minha pele com sua mão, é certo que sempre o faz com minhas lembranças. E engana-se quem afirma não haver materialidade nas memórias, pois há vezes que cortam mais que facas afiadas e queimam mais que ferro em brasa. Por isso, para dar cabo dessa indecisão existencial, decido-me pela onipresença: está lá e também está aqui, pois se é lá que ela dá seus primeiros passos nas areias de uma praia nova, é aqui que sinto suas pisadas, ainda marcadas nas areias da primeira praia onde nos deitamos.