Mandona

Minha filha, com quatro anos e meio de idade, um dia me disse:

- Quando ficar velha, vou ficar mandona.

Demorei quase um ano para entender.

E depois consegui respirar aliviado.

A melhor coisa que pode acontecer é ela ser mandona, pois ser uma mulher decidida é mais do que mandar e desmandar nos homens.

Ser mandona é estabelecer limites, pois ela não se torna mandona

por que pediu para o marido tirar as chuteiras depois do futebol.

Ela se torna mandona quando assume uma função política, econômica ou jurídica,

uma presidenta,

uma economista ou juíza,

do contrário,

é a mãe mandona que faz barulho,

mas os filhos riem,

o esposo não valoriza

a amante ridiculariza.

Quero muito que esse desejo da minha filha se concretize.

Desejo que seja mandona.

Capaz de mandar em si, pois aquele que ordena a si, ordena os outros.

Minha filha será a namorada, a companheira ou até a mãe de alguém um dia.

Seja o que for, se ela decidir ser, assim será. Se conseguir ajudá-la a ser mandona estarei feliz.

Não quero que ela faça aula de práticas defensivas, quero que ela ataque, que morda, que o assaltante corra o mais rápido do que puder de perto dela.

Para que seu olhar seja o suficiente para dizer que uma conversa encerrou ou começou.

Para que não seja quem espera um príncipe, um sapo, um anel, uma promessa ou uma palavra de consolo.

Para que não digam: ela é apenas uma mulher.

Para que não seja enquadrada em uma estatística, uma tentativa de homicídio, nem homofobia.

Quero que minha filha, ao ficar velha, como desejou, seja definitivamente mandona.

Assim, será mais fácil não estar neste mundo quando tenho que temer: o que um homem pode fazer contra minha filha?