Minhas virtudes sempre serão defeitos aos olhos de quem rejeita tudo que ofereço.

Desde então, dois anos se passaram. A realidade da qual cansei-me de reclamar foi criada pelos meus próprios pensamentos, pelas ditas crenças limitantes, mas não devo nem pretendo cultivar o lixo jogado em meu quintal, sou capaz de realizar meus sonhos e conquistar um lugar ao sol sem ter de derrubar ninguém, o céu é infinito e há espaço para todas as estrelas brilharem, cada qual com seu singular encanto.

Apesar de desmerecida por uma pessoa maledicente, de intenções perversas e língua venenosa, lutei muito para celebrar as conquistas que tive, entrei no ringue, caí, me machuquei muitas vezes e sigo aprendendo, porque independentemente do número de condecorações, sou vitoriosa... porque decidi criar as oportunidades no lugar de cruzar os braços e esperar cair do céu.

As maledicências machucam, contudo, externam a debilidade do caráter de quem precisa odiar para preencher o vazio de uma vida pautada na inveja, no desdém das conquistas alheias, no falso complexo de superioridade disfarçado de puritanismo. O silêncio é fruto do medo de me pronunciar e ser hostilizada, porque não importa o quanto eu me esmere, o julgamento não mudará.

Minhas virtudes sempre serão defeitos aos olhos de quem rejeita tudo que ofereço. O fato de eu ser comunicativa gera inveja em quem prefere julgar sem nem conhecer. Relativizar meu sucesso e me desconstruir com palavras torpes é bem mais cômodo do que parar com vitimismo barato e encontrar uma ocupação melhor do que cobiçar o que pertence as outras e se ressentir com o regozijo delas. Não vou me desculpar por gostar de reciprocidade, por ser afetuosa, por ser eu mesma. Ela não vai me convencer de que sou um erro, uma aberração, julgar e apontar todos os meus erros como se fosse perfeita e estivesse salva do inferno. Um dedo apontado em minha direção e outros três mirando-a.

Desde então, dois anos se passaram. Afastei-me dos meus amigos por crer que nada mais tinha a lhes oferecer. A dor ignorada se transformou naquela ferida que hoje exige cuidados. As palavras ainda escritas com certa dose de receio pedem espaço para desafogarem o peito sufocado pela angústia de não ter desabafado com alguém o que se passava naqueles tempos os quais o contato com pessoas verdadeiras teria sido mais eficaz que o voluntário isolamento.

Aqueles que nos enxergam com amor podem nos corrigir sem nos destruir. Seres tóxicos são especialistas em depositar o lixo deles em nós, junto a todas as culpas e frustrações, desmerecer nossos feitos, descontar o ódio que sentem por si mesmos com o objetivo de nos convencer que somos tóxicos, não merecemos o que temos, dentre outras barbaridades.

O direito de me pronunciar não será vedado, entretanto, por mais doloroso que tenha sido presenciar tanto ódio vindo de uma pessoa que enche a boca para se dizer "cristã", agradeço por ter despertado, penso que se não for eu, esse alguém terá outro alvo, cedo ou tarde. A opinião dela felizmente não é unanimidade e não precisa nem irá me definir. Não lhe desejo o mal, ser ela já é um castigo e tanto. Aprendo pela observação.

Desde então, dois anos se passaram. O bloco de notas aprecia sobremaneira o singelo toque, reconhece as digitais que fizeram dele um grande companheiro nas noites de janeiro a janeiro, abrigando sono, sonhos e enigmáticas reticências de manuscritos talhados, preservados dos efeitos do tempo e das desilusões subsequentes. Pretendo voltar, pois sei onde é o meu lugar e é lá que quero estar.

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 26/05/2021
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