A vida depois da morte
Alguns acreditam que depois da morte ainda há uma continuidade, ainda iremos para algum lugar no qual teremos uma vida eterna a desfrutar, outros acreditam que passaremos por um processo de reencarnação e retornaremos a esse mundo em outro corpo, em outras circunstâncias, com as ligeiras lembranças daqueles eventos que se passaram, outros, ainda, acreditam que com a morte a vida simplesmente termina, tem o seu ponto final decretado, deixamos de existir, o que fizemos estará feito e quanto ao que não fizemos nada poderá influenciar. Talvez alguém esteja certo, talvez ninguém tenha descoberto a verdade, o fato é que não sabemos o que nos espera depois que dermos o nosso último suspiro, sabemos de apenas uma coisa: nossa continuidade estará na história que escrevemos. Isto é, se essa história for digna de ser repassada de geração em geração. Como anda a sua história?
Nós nos preocupamos com céu ou inferno ao passo que deveríamos nos preocupar em fazer uma bela passagem por esse plano da existência, porque é tudo o que temos, é tudo o que de fato vemos e contemplamos. E é nessa passagem que teremos a chance de nos eternizar de alguma maneira. De continuarmos vivos mesmo depois de mortos. Não num plano espiritual que possa ou não acontecer, mas nesse plano material no qual habitamos. Continuarmos vivos dentro dos corações das pessoas que nos amaram. Mas para que isso aconteça, para que alguém nos ame, para que alcancemos a sorte de conquistar uma morada, precisamos nos despir de nossos egoísmos e mesquinharias e passar a olhar para o outro atentos, também, à sua existência. Muitos passam por esse mundo e desperdiçam o seu tempo, vivem na mais completa miséria, não pela falta de dinheiro, mas pela falta da humanidade e sensibilidade que são necessárias para que despertemos o carinho, o apreço, a admiração das outras pessoas. E não é que viveremos em função de conquistar tais privilégios. A consequência de sermos pessoas generosas e sensíveis é que sempre teremos uma morada aconchegante.
Mas a maior consequência é que estaremos nas lembranças das pessoas que nos amaram. Elas terão orgulho de dizerem que fomos amigos, que viveram conosco algum momento de nossa travessia, que tiveram o prazer de escutar nossas palavras, de conhecer nossos pensamentos, de serem também inspiradas por toda a nossa motivação e bondade. Não estou dizendo que seremos pessoas perfeitas, como deuses na terra, mas que seremos pessoas dispostas a passar por esse mundo cultivando valores que não nos deixarão cair no esquecimento quando nossos olhos se fecharem para nunca mais se abrirem. E assim a nossa história será propagada. Um belo dia alguém terá entre os dedos uma fotografia tão bem guardada e com lágrimas nos olhos, com aquela agradável saudade, dirá quem fomos e o que representamos, compartilhará algum belo episódio que juntos vivemos, colocará um largo sorriso no rosto cheio de orgulho e dirá que conosco pôde aprender um pouco sobre a magia e o prazer da vida.
A vida eterna como muitos acreditam talvez aconteça, talvez não aconteça, mas o que eu quero para mim é que mesmo depois da minha partida eu possa estar presente nos corações das pessoas que procurei amar, que procurei respeitar, que procurei auxiliar, que procurei enxergar. Talvez eu não me importe em viver para sempre, mas com certeza me importo de fazer com que cada um que cruzar o meu caminho tenha boas recordações quando elas forem tudo o que restarem de mim. É claro que não será fácil. É como uma complexa construção que exige minuciosos cálculos. A vida é assim. Não é para ser vivida desleixadamente. Mas para ser aproveitada com sabedoria em cada discreto e efêmero segundo.
(Texto de @Amilton.Jnior)