Sofrimento Infinito
Depressão. Apenas a palavra já o bastante para assustar e causar espanto. Parece que o tempo passa e nunca encontramos solução para esse mal tão grandioso que não pode ser resumido ou justificado como falta de fé, como falta de interesse, de vontade, como preguiça ou vitimismo. Não falamos para alguém que está com câncer que a culpa é dele, que é a sua inércia que o deixa assim, nem apresentamos soluções simples, equivocadas, como forçar um sorriso no rosto e acreditar que tudo vai passar. Alguém que está com câncer precisa ir ao médico, mudar seus hábitos, participar de um tratamento, fazer uso de medicamentos. Não é diferente para alguém que tem depressão. E quem tem câncer não sente vergonha de ir ao médico, procurar os familiares e pedir ajuda, ele quer sobreviver e sabe que sozinho não vai conseguir. Alguém com depressão deveria ter essa mesma possibilidade, buscar socorro e encontrar apoio no meio das pessoas que ama. Mas em muitas vezes o que ocorre é o contrário. Pessoas depressivas são estigmatizadas, subestimadas, sua dor é desmerecida, seu sofrimento é ignorado, sua falta de motivação é vista como “folga”, sua tristeza angustiante é definida como “frescura”. Como pedir ajuda no meio de pessoas que estarão prontas para julgarem e apresentarem soluções fantasiosas? Infelizmente a grande maioria das pessoas só toma conhecimento da profundidade da depressão quando a tragédia foi o seu resultado final.
E se o problema é não ter nada de biológico para apontar, saiba que o cérebro de uma pessoa depressiva está quimicamente desequilibrado, o que contribui para o seu desânimo, para a sua visão distorcida e pessimista da realidade, para as lentes escuras que se colocam em seus olhos fazendo do belo algo feio, fazendo daquilo que antes parecia tão agradável em algo sem sentido ou repulsivo. Imagine você, com todas as suas alegrias, cercado por tudo de agradável que lhe desperta interesses imensuráveis e, então, aos poucos, tudo isso vai perdendo o significado, não porque outros interesses chegaram, mas porque nada mais importa. E então você se fecha. Não se sente compreendido, muito menos acolhido, e a única solução que encontra é se isolando. Afinal, quem gostaria de ter uma companhia como a sua? Essa é só uma pincelada do que sente um depressivo, alguém mergulhado em incertezas e pensamentos incapacitantes, desmotivadores, completamente incrédulos quanto às possibilidades da vida.
Não diminua a dor que não sente. Não subestime o sofrimento que não pode entender. Para você tudo pode estar normal, indo bem, em seu mais perfeito equilíbrio, mas para aquele que desfruta de uma dor indescritível, um infortúnio que domina sua mente, tudo pode estar desmoronando, indo à ruína, deixando de existir. E tudo se acaba até que nada mais resta. Nenhuma esperança. E o último fio se rompe. O fio do abismo.
Olhe para as pessoas com empatia, considerando suas emoções, validando os seus sentimentos, considerando seus desabafos. Não deixe que a tristeza de hoje fique sem atenção, para que amanhã não se torne maior e com tempo indestrutível. Ouça não apenas as palavras que soam, ouça o pedido de socorro que pode estar atrás delas. Não sufoque, respeite o espaço. Mas esteja presente, consciente. Tenha força e seja a força. Permita que confiem em sua sensibilidade. Não diga nada, mas que suas ações deixem claro, anunciem ao mundo, que podem contar com o seu apoio para que o for necessário. Isso é ser humano. É cuidar do outro mesmo em silêncio.
(Texto de @Amilton.Jnior)