Com esmola ou sem esmola?!
O pedinte se aproxima.
Acelero o passo para escapar do bote.
Tarde de mais. Um carro impede que eu atravesse a rua
-- Por gentileza, moço. Posso falar? É rápido. Não é dinheiro.
Esses são os piores, penso. No final, é sempre um pedido embrulhado em uma história triste.
Agora passo ao lado dele finjo não entender, enquanto resmungo: "não, obrigado", como se ele tivesse me oferecido um pirulito e eu gentilmente tivesse declinado.
Da minha parte, raiva, as vezes culpa. As vezes raiva com culpa.
Da parte dele, talvez ódio, talvez fome, talvez indiferente pelo costume da mendicância.
Às vezes, numa fingida convicção contra a esmola, mantenho o passo e com olhar compassivo digo "não" olhando nos olhos.
Então vejo olhos melancólicos. Olhos tristes.
Olhos sedentos. Olhos violentos. Olhos vingativos.
Será se era melhor para nós dois não ter olhado?!
Quando estou acompanhado de amigos, fica mais fácil, pois costumo ter reação de manada e sigo o(comportamento do) líder.
As coisas se complicam quando é com minha esposa.
-- Com licença, casal...
Ela fica indecisa e olha para mim. Ela é a generosa; eu, durão. O resultado é um desconforto emocional, com esmola ou sem esmola.
E me pergunto. O que um homem bom e justo faria?
Quantos textos deste tipo ainda serão escritos?