Meu vício

Eu,

Querendo desistir de tudo,

Procurando aceitar o modo estranho do mundo.

Quando na play list, Raul me falou:

"Tente outra vez".

Será que é algum tipo de sinal?

E porque os deuses enviaram Raul e não Padre Cícero ou outro santo rebelde qualquer?

Talvez pelo conteúdo da mensagem pronta.

"Não pense que a cabeça aguenta se você parar".

Por vezes tentei parar, não consegui.

Dúvidas borbulham na mente,

A rima suaviza, apesar de ácida,

Organiza e busca tornar tudo coerente.

E a droga do texto se cria.

Me consome, e há desejo. Quero mais, busco, procuro, leio, encontro e escrevo.

Fissura por hora saciada. Mas logo corpo e mente querem mais...e outra vez escrevo.

Mas tenho a impressão de gritar em um quarto acústico e escuro, um eu fora de órbita, completo devaneio.

Vezes acredito que minha insignificância é tão grande que procuro a briga e me ignoram.

É como se o Brasil declarasse guerra aos Estados Unidos, com a ameaça de "temos pólvora''. O desdém é tanto que nem pouco fazem, nem esboçam um sorriso irônico no canto dos lábios.

Mas a provocação e as palavras me entorpecem.

Escrevo por mim, mas com culpa.

Dichavo as letras, enrolo as palavras e dou um tapa com a alma.

Vício que remete a culpa,

Gera fissura,

Não há remédio,

E nem a cura.

Leva a loucura,

Usa palavras,

Vezes suaves,

Outras mais duras.

Quer liberdade,

Não a censura,

Encara de frente,

Qualquer ditadura.

Disfarce de padre,

Vezes de puta,

Vida na fé,

De alma impura.

Grito de raiva,

Mas sou doçura,

Dualidade,

Que dá tontura.

Peço perdão,

Rogo por cura,

Chagas abertas,

Marcas profundas.

Charles Alexandre
Enviado por Charles Alexandre em 06/05/2021
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