A incrível habilidade humana de subverter conceitos
Os homens, na sua natural vocação para subjugar seus semelhantes, em alguns casos porque se acham na obrigação de ser a consciência de todos e em outros para satisfazer seus instintos, vícios e luxos sem ter que despender muito esforço, é capaz de subvertes os mais sublimes conceitos e noções.
No passado na Europa, foi formado o conceito de soberania divina, que afirmava que os reis podiam governar apenas de acordo do com a Lei Divina; entretanto, eles perverteram esse conceito e o transformaram em um carimbo de aprovação divina para qualquer ato, legítimo ou ilegítimo, moral ou imoral, que praticassem.
O conceito de democracia parlamentar originou pela necessidade de haver alguma restrição popular ao poder monárquico absoluto e terminou com o parlamento não apenas se tornando parte essencial do estado, como também a manifestação da plena soberania deste.
Nas democracias, o princípio básico de que “o poder emana do povo”, foi descaradamente pervertido de modo que esse poder concedido pelo Povo a “representantes” eleitos, seja usado para extorquir, espoliar, usar a população como escrava e “tábua de tiro ao alvo” para que uma “realeza” viva no “estilo Maria Antonieta” e se proteja de todas as eventuais intempéries de ordem econômica seja de origem local ou de nível mundial.
Nos exemplos citados acima, a transformação foi feita gradualmente, sem nenhum tratado a respeito ou planejamento prévio. Elas aconteceram “naturalmente”.
Porém, existem deturpações de conceitos que foram objetos de estudo, livros e artigos.
Vladimir Lenin conseguiu a proeza de deturpar simultaneamente dois conceitos, quando citou a expressão “ditadura democrática” no artigo “A Ditadura Democrática Revolucionária do Proletariado e do Campesinato”, publicado em 1905.
Além de alterar o conceito de “ditadura” e “democracia” pelo uso das palavras como se essas condições pudessem ser harmônicas, ele deturpou o conceito de “democracia” ao propor a tomada do poder pela força como único meio viável para vitória do proletariado, atitude essa que não tem nada de democrática.
Esse modo peculiar de tratar questões que seriam de ordem política, talvez seja um dos motivos que levam seus herdeiros intelectuais em todo o mundo a posições dúbias, por que não dizer cínicas, quando ao mesmo tempo que repetem insistentemente a palavra ‘democracia”, defendem abertamente a participação cada vez maior do Estado na vida da população, interferindo praticamente 24 horas por dia no comportamento e até no pensamento das pessoas.
Como se não bastasse esse desvirtuamento absurdo do conceito de “democracia’, acessoriamente há desvirtuamento do conceito de “cidadão”, que passa de “individuo consciente de seus direitos e deveres” para “componente de um rebanho dócil e obediente”.
“E assim caminha a Humanidade”.