O irmão Minho
Quantos anos, desenvolvendo e evoluindo minha psique, junto ti, Pai Minho? Agora eu também sou pai, e já deixei de ser filho... Somos como irmãos: ambos intuímos saber algo, e entre ambos, esse algo confidenciamos.
Sem o teu espelho, como eu poderia ter averiguado, qual o caminho a seguir, no meio a tanta e tanta encruzilhada, que o destino traz par nós (não para danar-nos) somente para que tenhamos escolha, entre diversos caminhos?
Irmão Minho, espírito amoroso da mágica Galiza. Da Mãe Universal, aberta ao mundo. Do teu filho Sil, trazes a auga. E ele te relega a fama, pois sabe com certeza, tu nao és presuntuoso: somente fazes o teu trabalho conforme a tua natureza: sendo rio, sabes contornar as montanhas (que na Galiza são suaves, como a fala das suas gentes).
Que terra cheia de imensas dávidas, Deus nos tem legado. Quanto sofrimento em silencio, mãe Galaica, para que teus filhos, ao exemplo do humilde rio Sil, levem a fama.
Amada Galiza, que sofres em silêncio com dignidade a dureza dos séculos que te malgastaram a fala, que ajoelharam as tuas gentes, que decapitaram como ao nobre Pardo de Cela, tua alma..
E no entanto, e cada primavera surges esplendorosa e cheia graça: como a Deusa Natureza, que anima tuas fragas, vales, rias e praias... Dos carvalhos sagrados dos druidas, a folha que da saiba sagrada, em no nosso sangue prevalece. Pois a pesar de tanto martírio, em milénios acionado, por impérios egoístas, como o hino de Ramom Cabanilhas afirma: seguimos em pé, com a limpa frente erguida, envoltos na alvura da luz que chega do céu, para nós tão querido...
Pois é o céu desta Galiza saudosa, que acompanha o irmão Minho, por todo seu percurso.
E eu sempre lhe pergunto: irmão, ate quando terá continuidade nossa estirpe, ate quando prevalecera nossa já quase morta cultura celta?
E o irmão Minho, acho eu resposta: nossa estirpe é eterna. Ela nem nasce nem morre, simplesmente de um lado a outro do rio, transita. Enquanto a nossa sagrada cultura celta, ela misturar-se-á, nas novas terras de promissão com as almas culturais de todo o mundo, dando nascimento a um novo sol, onde toda as raças se juntem....
Ó meu irmão Minho, como poderia eu saber o destino da nossa boa e nobre gente? Pergunto em pensamento. E num instante, ouço, os ritmos do rio, como evocar: - o destino da nossa gente sempre é seguir a digna e honrada senda, dos tempos que são chegados, para libertar a humanidade de todas as suas cadeias, como fala nosso hino... Essa é nossa Missão mais Alta.
Acredito estas conversas com o irmão Minho ter, e fico, um bocadinho mas sossegado, e sinto a minha alma de novo renascer, com o sofrimento preciso para transformar o incerto, ao igual que com grandes trabalhos, os filhos dignos desta pátria trabalham, para que seu alento jamais deixe de transpirar pelo nosso peito... sua língua ser outra vez elevada o lugar de culto, do que nunca deveu ter caído. Fico um bocadinho a observar o rio e adormeço.
Adormeço, em tardes de primavera, verão ou outono, as beiras do irmão Minho... Deixo-me no Todo que me rodeia penetrar, e, então, sem eu saber como, o sonho de conseguir voltar finalmente a verdadeira casa (materna e parterna), torna-se finalmente realidade...