Uma noite qualquer
Era só mais uma madrugada sem sossego, mas por algum motivo, ela acabou se tornando algo memorável.
Naquela noite, eu escrevi um monte; escrevi sobre sonhos e sobre paz; escrevi sobre coisas que eu queria que nunca acabassem; sobre o meu pavor de não saber o que seria de mim quando inevitavelmente chegassem ao fim.
Escrevi sobre a noite e sobre a lua; sobre a chuva e sobre o sol;
Escrevi sobre a minha parceira, melancolia.
Escrevi sobre o meu medo do futuro, meu medo do acaso e meu medo de mim.
Às vezes, quando olho pro céu, eu sinto como se ele estivesse exatamente igual ao daquela noite.
De tempos em tempos, Ela ainda volta pra me assombrar, sem prévio aviso da sua vinda e sem previsão da sua partida.
Ela me sufoca mesmo sem me tocar, e então sussurra friamente pela janela: "O que você realizou?".
É um fantasma que sabe muito bem as perguntas que eu mais temo.
Naquela noite, eu me fiz promessas convicto de que havia de cumprir, mesmo duvidando da minha capacidade de fazê-lo.
Eu fugi de toda maneira possível, até me encontrar submerso no surreal.
Até o meu mundo sacudir de novo, me apontando como uma falha completa. O anoitecer permanece intocado, já eu, não.
Em noites como essa, eu queria só um pouco da esperança que eu alimentei naquela noite; eu queria só um pouco daquela força, aquela vontade, aquela fé...
Em momentos assim, eu desejo poder ser só um pouco menos eu.