Mergulhadores

E direciono meu pedido de perdão especial a todos os mergulhadores. Aqueles que saltam de cabeça. Que não colocam seus braços estendidos em direção à agua para, caso ela se solidifique em uma fração de segundos, evite-se um traumatismo craniano seguido de uma morte visceral. Vocês são os verdadeiros heróis. É sobre vocês que os contos de bravura deveriam ser recitados. E me dói admitir que, comparado a vocês, tenho sido tão pífio. Admito que antes de permitir que a água encoste na minha pele tenho checado todos os termostatos, astrolábios, os postulados dos pontifícios. E, antes de entrar de cabeça, tenho colocado a ponta do meu dedão apenas para conferir se a água ainda é água. Imagine se me jogo como esses destemidos mergulhadores e, logo na minha vez, a água deixe de ser água. Não sou dos mais sortudos, por isso, não duvido que na minha vez tudo possa vir a dar errado. E, tem sido exatamente nesse pavor, supostamente irracional, que tenho batido meu crânio sem nem me dar conta. A cada dia, uma explosão de ossos diferentes. A cada água solidificada, o vermelho do sangue tomando conta do solo outrora dispido de cor. E é por isso que peço meu perdão especial a todos os destemidos que tem se jogado por inteiro. Pois eu, de tanto ser metade, liquidei-me e virei pó.

Rodrigo dos Reis
Enviado por Rodrigo dos Reis em 29/04/2021
Código do texto: T7244272
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