__________________________________CARNICEIRA
A poesia é uma deusa carniceira,
pálida,
e repousa em minhas veias.
A poesia,
de fronte fria,
deu-me... ah, tão nívea criatura e
macia como cetim,
blasfema a mortalidade,
e se acende palpitante...
precipício aberto à beira da palavra!
A poesia matou todas as minhas certezas
à canalha gaveta flutuante,
calma e silenciosa,
no dorso soturno do mundo.
A poesia
- com a sua face desbotada -,
como a lâmina cortante de uma adaga,
talhou em mim o seu reflexo.
Serpente em febre epistolar nas minhas memórias...
Que estranha sensação!
Desventurada seja,
pois que me oferece a poesia com igual malícia
- o perfume sutil e bruxeleante em minha espinha, doce afago!
Vivo, desde então, pouco a pouco, em cada letra!