Sem título (velhinhos)
A gente nunca está preparado para a morte, e nunca estamos preparados pra a vida também. É a única prova que amamos a ociosidade e a vida, porque também é tudo que temos. O amor precisa de ociosidade, de um tipo de dedicação sem nenhuma distração de vez em quando.
É curioso que, quando estamos próximos da morte, queremos estar do lado da nossa mãe ou nosso pai... como os velhinhos que chamam em seu devaneio pelo irmão caçula na casa da infância, ou acham que a filha é, na verdade, a mãe cuidando de um resfriado bobo com um zelo que impede que se vá a aula... e gritam alegre "mãe!" com uma firmeza no presente, como se fossem agora novamente a criança que já não existe no mundo real a tanto tempo. Tudo isso mostra que somos parte de uma grande trança de gerações, mas sonhamos em ser crianças para sempre, e receber uma casa, uma família, e um abraço de segurança que diga “eu vou cuidar de você para sempre”. É difícil aceitar que nunca temos controle de nada, e os adultos mentem muito todos os dias sobre isso, mais porque não existe outra forma de existir do que por medo ou qualquer outra coisa. Queremos confortar também as crianças de hoje que serão velhinhos em alguns longos anos, quando não estivermos mais aqui. O amor sempre engendra a dor e ele sempre vale a pena.