Monsieur Verdoux não explica o Brasil
Numa das sequencias mais marcantes do filme Monsieur Verdoux (1947) de Charles Chaplin, quando um jornalista visita o assassino na cela, ele diz: “Um assassinato faz um vilão; milhares fazem um herói. A quantidade santifica, meu amigo”.
No Brasil não temos matadores em série famosos, mas temos os corruptos de carteirinha que são muito admirados e até endeusados por parte da população.
Então, trazendo a mensagem de Charles Chaplin para nosso quintal, podemos dizer “Quem rouba dez Reais é ladrão, quem rouba milhões decide os destinos do país”.
Charles Chaplin mostrou em suas obras um comportamento anarquista, mas do ponto de vista político ele foi considerado comunista e perseguido na era do “macarthismo” como antiamericano.
O filme Monsieur Verdoux foi considerado uma crítica ao capitalismo, boicotado nos Estados Unidos e bem recebido na França, como era de se esperar.
A frase dita pelo personagem na cela, tem uma mensagem que pode parecer óbvia mas não explica os vários interesses que podem estar envolvido nas guerras e nem justifica o fato do personagem ter assassinado várias mulheres indefesas para ficar com suas fortunas.
Ela não diz por exemplo, que as guerras são invariavelmente iniciadas por estados e que as populações invariavelmente se tornam vítimas, exceto no caso dos Estados Unidos que, depois de sua guerra civil e excetuando o ataque a Pearl Harbor, conseguiram mantê-las longe de seu território até 2011.
Tanto nas guerras como na corrupção tem os que lucram e os que pagam a conta.
Nas guerras, o lucro pode ser apenas psicológico para os líderes psicopatas, na corrupção quase sempre há dinheiro envolvido.
A diferença entre um caso e outro é que nas guerras é humanamente impossível as populações envolvidas nas áreas de conflito sentirem alguma satisfação com sua degradação material e espiritual, ao passo nas áreas dominadas pela corrupção, embora ocorra também degradação material e espiritual das vítimas, elas inexplicavelmente sentem necessidade de apoiar os corruptos, numa espécie de Síndrome de Estocolmo.
Daí vem a proporcionalidade de quanto maior o roubo maior a admiração provocada nas vítimas.
Há mais coisas entre o sofrimento e o prazer do que pode comportar a van da Filó Sofia.
NA – Filó Sofia é uma senhora proprietária de uma oficina mecânica com clinica psiquiátrica anexa.
Sua van tanto leva e traz os clientes da oficina como os pacientes da clínica .