Os olhos de alguém

Já questionamos essa nossa mania em reclamarmos que os meses duram uma eternidade e o ano passa em um piscar de olhos? Lembro-me de uma tragédia anos atrás de quando era adolescente e do quanto isso me afetou. Um incêndio. Chorei de frente a TV. Chorei semanas.

Quantas tragédias vieram depois dessa? Quantas dessas choramos por semanas? Por que nossa dor não parece mais durar um dia inteiro? Ao longo dos anos, o que mudou em mim? O que mudou em nós? Onde foi que guardamos nossas lágrimas? O que o resultado das eleições tem para nos dizer sobre o que perdemos em nós? Regredimos? O que a infinitude de cada mês diz sobre o ano não valer a pena? Onde guardamos o valor que costumávamos dar às coisas? Às pessoas? Por que fevereiro vai durar tanto e amanhã quando acordarmos já será dezembro? As piadas e memes são para nos confortar ou para nos esconder? Rimos porque somos um povo alegre apesar de tudo? E até onde o “apesar de” carregará o peso de não indagarmos mais sobre o “tudo”? Faz sentido ignorarmos a tristeza de hoje por sabermos que amanhã haverá outra? Nossa alegria é mesmo alegre?

E se fevereiro for mesmo infinito, tal qual janeiro? O que eu vou fazer? Quem eu vou ser amanhã, quando chegar dezembro?! Hoje nós vivemos?

Ontem vi um girassol que me deixou feliz. Me fez lembrar da vez que peguei o sol tocando o rosto de alguém de olhos acastanhados que passou por mim em uma tarde azul de domingo.

O que a flor, o sol e os olhos têm a ver com o restante?

Minha tentativa em dizer que a poesia – por mais que não responda ao que pergunto – é a resposta que encontro quando duvido de todo o resto.

Poesia esta que me fez lembrar de alguém que nunca existiu, mas que possuía bonitos olhos castanhos. Alguém que criei e agora o escrevi para que passe por você também durante uma tarde azul de domingo. Ou se preferir, lilás.

Agora a pergunta final e a única que pedirei uma resposta:

São mesmo bonitos, não são!?