O hipócrita
O hipócrita é o ator que esqueceu de tirar a máscara, pois personas todos temos. A grande diferença entre o homem "justo" e o hipócrita, é que o justo continua na ânsia tão natural ao ser humano de divinização, verticalização, a busca de trazer o sagrado à sua vida, até o ser, enquanto o hipócrita não acredita em nenhuma verdade ou melhor, prefere que não exista e por isso vive para os seus prazeres mais baixos. O hipócrita é um hedonista e sofista por natureza, enquanto o homem que busca a retidão, a justiça, é um filósofo por natureza, ainda que não o saiba. O hipócrita se convenceu de tal forma que a verdade não existe, que muitas vezes se assemelha ao cínico, mas o hipócrita é pior; uso tais adjetivos no intuito de destacar que, o hipócrita nada enxerga além de seu nariz e que sua identificação com a máscara é tamanha, que faz com que muitas vezes se assemelhe ao homem justo e os enganem. O hipócrita é um homem com pouquíssima empatia e mesmo assim exige os títulos em papéis e palavras, pois são fixados nas aparências, imagens que os são. Para além do cínico, o hipócrita decidiu negar o aspecto mais elevado do ser humano, no intuito de se livrar de todas as amarras que os proíbem de realizar seus desejos mais profanos. O hipócrita é um homem de baixa estatura. O hipócrita é um homem sagaz pela perspectiva do devir, mas é uma anta na perspectiva cosmológica. O hipócrita de tão cego que se tornou, muitas vezes não percebe que a sua máscara está rente ao chão. O hipócrita para além de um homem sujo, é um sujo que se ver como limpo e/ou o sujo que para ele é o limpo. O hipócrita é o homem que decidiu viver no escuro, negando tudo que está além e por isso ao ver a luz a condena. [...] E por isso condena a luz ao vê-la. O hipócrita é um homem, nunca é algo além disto, pois não há autoconhecimento mais profundo que o de uma porta. O hipócrita não têm sequer um vislumbre do sublime, e nem sabe ao certo o que amar. O hipócrita é um homem triste que não o sabe, não é um indivíduo, pois nega-se a ser. Para o hipócrita, o que mais importa é ter. A única diferença entre o hipócrita e uma fera furtiva, é que o hipócrita tem o neocórtex ao seu serviço. Não é como entregar uma arma a uma criança, pois o hipócrita sabe muito bem o que quer, tem objetivo, mas que não percebe que se coloca na mesma posição da sua busca, ou seja, de um objeto. O hipócrita é um porco que exige admiradores e que se autoproclama rei. O hipócrita é um homem que não fugiu da dicotomia entre o meu desejo e o do outro, ou melhor, que enxergou isso como uma dicotomia, sendo que nada a mais é que aparências, a grande maioria delas. E que só nos aponta mais uma vez, o quão baixo podemos ser, e que a diferença entre o mundo real e minhas fantasias é alarmante. Já para o hipócrita, se desejo faço, faço/desejo, desejo/faço; o hipócrita é um homem simplista, que trabalha com conceitos contraditórios, nada além disso consegue calcular, e nada além disto consegue vislumbrar.
O hipócrita muitas vezes pode facilmente ser patologizado, mas que não faria nenhuma diferença, pois o que eu escrevo é como que uma interpretação conceitual do que significa derivadas direcionais multivariáveis, a sua parametrização e relação com transformação linear, haja vista, a pequena modificação de início até uma série de modificações acontecerem no campo (que pode ser visto como espaço) vetorial, e sabe-se lá quantas dimensões têm, e o fato da definição formal se basear no conceito geral de derivadas, onde será adotado outros signos que representam outros conceitos, onde se pressupõe conhecimentos prévios, e mesmo você estando calculando a derivada de uma derivada, ou pelo menos como se fosse, e também a função de entrada que de fato não é função, tudo isso é didática, você consegue de fato ter uma "foto" do buraco negro. Até para abstrações longas o hipócrita já tem dificuldade, pois seu mundo é o ganhar ou perder, então quem dirá o além disto. O hipócrita é o homem que se apresentado a uma peça dividida em três movimentos, o primeiro em uma tonalidade maior, o segundo em uma tonalidade menor, porém, com o mesmo campo harmônico, e o terceiro em uma tonalidade maior em outro campo harmônico, mas que podem se relacionar através do círculo de quintas, diferentes melodias para cada movimento, diferentes andamentos e uma somatória de compassos, até chegar a entender de fato o que se diz ali, como que do mais simples e geral, até o mais específico, semelhante ao método de Descartes, e não, o hipócrita já estaria negociando com aquilo que dá mais dinheiro. Então logo percebemos, que nem o intelectualismo lhe interessa de fato, ele a utiliza como meio e se puder burlar ao máximo essa fase, ele o fará, então como poderíamos esperar algo além? Seria preferível o hipócrita sem educação, pois assim não faria tanto estrago. O que deveríamos esperar de uma onça que aprendeu a fazer fogo? Ensiná-la a respeito do mito de prometeu? Os mitemas associado ao fogo? Não, para com o ignorante devemos educação, para com o idiota daremos risadas, para com o burro (no sentido Kantiano), tiramos de suas mãos qualquer poder.
O hipócrita é o aspecto mais rude da natureza humana e que precisa ser enobrecido. O hipócrita ao olhar no espelho sorrir em deleite ao se deparar com suas conquistas insípidas, que jaz ao se deparar em suas conquistas. O hipócrita é um plebeu que se veste como nobre, é um homem vulgar que de máscara de virtuoso. Ao olhar o espelho e não ver nada, vazio por não "ser" em ter e aí, então, raiva, ressentimento, abruptamente se direciona a matéria, no intuito de lotar o quarto escuro (visto como não ter pelo espelho) e não ficar sozinho, e ao menos percebe a complexidade e profundidade da ação. O hipócrita é o homem que cegou a si mesmo. O hipócrita é o homem que se identifica com seus desejos, pois para ele é tudo o que há. O hipócrita está em constante negação do em si, do irredutível, do self, expresso pelos risos internos consigo mesmo, rastreado pela intensidade do ter, denunciado pela raiva ao ver o espelho vazio e evidenciado ao abafar o eco dos risos, lotando os cômodos inteiros. O hipócrita é um homem que vive em prol dos seus desejos, que logo, desejo do homem, e não vontade. O hipócrita é um escravo do desejo.