Só uma prosa
A mortandade pesa sobre mim. Às vezes parece... que pago pelos erros de pessoas até desconhecidas. Minha nuca carrega um pesado fardo e nas tumbas procuro o alívio de minhas dores. Ouvindo meus prantos e lamentos, os anjos se angustiavam, de postadas as mãos, e os fantasmas parecem gozar de minha cara.
Minhas lágrimas parecem a chuva má, a chuva ácida. Sentimentos em xeque por todos os ângulos, com apenas uma saída, para a morte. Mas não raciocino a próxima jogada. No tabuleiro da vida, o próximo lance é o xeque-mate das brancas. Caio sempre na mesma armadilha e o final, sempre intacto.
O cemitério não é mais... o melhor lugar pra mim. Os anjos não conseguem mais ouvir meu lamento. Os fantasmas parecem gostar. Opto então por um quarto escuro, onde sento com a depressão pra conversar. Numa mesa redonda, acendo uma vela, encho uma taça com vinho. Ofereço-a à solidão, mas ela espera que eu me entusiasme. Em vão, solidão!
Uma pilha de livros ao meu lado. Alan Poe, Augusto dos Anjos... fornecem-me o único prazer que ainda consigo sentir: Medo! Olho para a vela quase acabando. Sinto o forte pulsar de minhas veias e o pesado bater do coração. Finalmente a dor. A vela apagou-se.