palavras sobre um fim de história
Acho que morri um pouco, desde o fim daquele romance.
acho que perdi um pouco de mim,
já que há muito tempo não me sinto completo.
Essa noção pode parecer doentia para muitos. Mas não consigo parar de pensar nisso. A bebida não tem o mesmo gosto quando toca os meus lábios. A embriaguez perdeu as cores. Perdeu o calor.
Mas eu sigo bebendo. Sigo vivendo. Mesmo que numa realidade monocromática. Mantenho meus copos pelo menos sempre meio cheios. Procurando fugir do vazio. Do vazio de não sentir nada.
Quando ela foi embora, eu era apenas um bêbado, com palavras presas na boca. Só pude vê-la se afastando. Sem dizer nada.
Sem deixar escapar nem um suspiro.
As lágrimas só vieram depois, com a chuva.
E eu fiquei no meio da rua, sendo lavado pela tempestade,
enquanto ela desaparecia na esquina dos meus pensamentos.
Talvez não tenha sido amor. Talvez tenha sido só uma metáfora pra uma lição existencial elaborada que eu ainda não consegui compreender.
Talvez o sexo. O prazer. Os lábios dela correndo pelo meu corpo. Talvez tudo isso tenha sido só um tipo de ilusão.
Os gemidos, os sorrisos. Os beijos... o meu fôlego perdido.
talvez tudo isso tenha sido apenas coisa da minha cabeça.
Enfim. Hoje é tudo irrelevante. Já que não consigo pensar na minha vida sem as cicatrizes que ela deixou. Já que não consigo lembrar como eu era antes.
Me pergunto às vezes porque ainda escrevo sobre isso. No meio da noite. Mesmo sabendo que ninguém se interessaria em ler.
De certa forma acho que me ajuda a fingir alguma normalidade... A botar pra fora algo que eu não gostaria de sentir.
Mas se eu sinto, é um sinal de que eu ainda tenho algo de vivo batendo no meu peito.
Sorte minha, talvez.
melhor sentir do que estar morto.