Escritor: apenas um ser humano
O escritor é apenas um ser humano e, assim sendo, pode ser acometido de todos os tipos de angústia, principalmente quando passa por crises existenciais que o levam a questionar a vida e os motivos de estar neste mundo. Ao passarmos por crises deste tipo, podemos inclusive sentir muita dificuldade de expressar adequadamente nossos sentimentos em palavras. Embora muitos sejam os escritores que experimentem explosões de criatividade em meio a períodos de depressão, também é verdade que não são poucos os que ficam bloqueados, como se de repente houvessem perdido a capacidade de escrever.
A depressão, doença cada vez mais comum, também atinge os escritores, que a sentem como uma sombra que os acompanha em todos os momentos de seus dias. Não é fácil realizar as tarefas cotidianas e, ainda por cima, tentar dar vazão à criatividade. Os ingleses se referem à depressão como se fosse um cachorro negro e de fato é assim que ela parece ser, pois insiste em marcar presença ao nosso lado, intoxicando nossas emoções e pensamentos. E isso pode contaminar nossa escrita. Podemos nos sentir desgastados, perder o encanto perante a vida.
Para um escritor, sentir que não consegue se encantar perante as maravilhas do mundo que o cerca é terrível. Nós, que sentimos que temos a missão de transmitir aos nossos leitores as nossas impressões do mundo, sentimo-nos em dívida por não termos como expressar em palavras o que estamos pensando ou sentindo sobre o amor, os acontecimentos mundiais ou nossas ideias acerca da existência.
Como simples seres humanos, nós somos inseguros, sentimos medo diante das incertezas do futuro e muitas vezes fazemos perguntas sobre se há motivos para estar neste mundo, se nós precisávamos nascer. Embora muitas sejam as pessoas que fiquem nos olhando como se fôssemos especiais, seria bom que elas convivessem conosco e entendessem que somos como qualquer outra pessoa. Temos limitações, precisamos enfrentar os problemas do cotidiano, somos afetados pelas inseguranças políticas, econômicas e sociais e cometemos erros de julgamento.
Entre as muitas crises que podem nos afetar está a sensação de vazio. Quem já não se perguntou o motivo de estar neste mundo? Do mesmo jeito, ocorre com um escritor. É terrível a sensação de que nada faz sentido, ainda mais quando pensamos nos rumos que nossas vidas têm tomado. Como todo mundo, podemos ficar perdidos, sentindo que estamos apenas seguindo os dias como autômatos e nos perguntando se deveríamos ter nascido.
Saber que somos simples seres humanos deve nos conscientizar inclusive de que não devemos sentir vergonha de nossas fraquezas e, caso seja necessário, devemos buscar ajuda profissional para conseguir adiante na interminável luta diária.