O Brasil visto em 2024
O texto a seguir é de autoria de Emil Gustav Friedrich Martin Niemöller, pastor luterano alemão:
Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram
meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.
No terceiro dia vieram
e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar…
Eduardo Alves da Costa, seguindo o estilo, em protesto contra o golpe de 1964, escreveu o poema “No caminho com Maiakówisk”:
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
Como a superficialidade faz parte decisiva da nossa cultura, os poemas tendem a ser vistos como um início e um fim em si mesmos, onde se enxerga apenas a sonoridade e estética, dessa forma a mensagem neles contida é ignorada.
Vou tentar exemplificar com um texto que pode vir a ser escrito daqui a três anos:
Em 2016 um ministro do Supremo Tribunal Federal, contrariando a Constituição, manteve os direitos políticos de uma presidente destituída.
E ninguém fez nada.
Em 2020, o Supremo Tribunal Federal, contrariando a Constituição, instaurou o “Inquérito das Fake-news”.
E ninguém fez nada.
Um jornalista foi preso ilegalmente com base no referido inquérito.
E ninguém fez nada.
Em 2020, um deputado teve sua prisão ordenada ilegalmente por um ministro do Supremo Tribunal Federal.
E ninguém fez nada.
No período 2020-2022, o Supremo Tribunal Federal fez tudo o que quis e não podia.
E ninguém fez nada.
As eleições de 2022, foram fraudadas com anuência do Supremo Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral.
E não havia mais nada a fazer porque a ditadura civil estava consolidada.