A Repetição como Essência
Diante de um mundo em que tudo é passível, ou ate mesmo incentivada a utilização, de questionamentos adversos sem qualquer objetivo de entendimento inerente as intenções ou de realmente tentar entender o outro.
Em um mundo onde só o que vale é o protagonismo, a vitoria e a imposição do eu sobre o outro, nessa imanência desenfreada e desrespeitosa, onde o cotidiano e suas lutas estão esgarçadas, destruídas por uma luta desenfreada norteada pela ilusão.
Não há mundo para todos, não há protagonismo para todos, mas para todos, mesmo os protagonistas e os inquisidores do outro o cotidiano.
Ninguém escapa dele, todos estão sujeitos e deter na existência sua própria perspicácia na lida do dia após dia.
A repetição alcança a todos, o cotidiano é a própria essência do que seja viver, repetição e repetições constantes de ações são necessárias para o todo do sujeito.
Nesse cotidiano não há o outro, o inimigo a ser expurgado ou a sociedade que devemos sobrepujar as nossas vontades, só há a repetição, só há solidão.
Vivemos assim, todos, em constante solidão, em constante repetição da solidão.
É ai que não há saída, não há fuga, só há angustia.
No cotidiano, que tanto tentamos fugir através de todas as formas possíveis de interação, atualmente vinculados as redes sociais, que esta a existência.
É no arrumar a cama, limpar a casa, por comida na mesa, ir para o trabalho, labutar na corriqueira insignificância que esta a existência e portanto é na angustia da solidão que a existência se desenrola.
Portanto, nos cabe dizer que a cultura de gênios necessários, de revoluções a serem implantadas e todas as alterações vinculadas a uma visão de que precisamos, necessitamos, ser protagonistas das nossas vidas, destruidores de sistemas e tudo relacionado a essa cultura do vitorioso é a mais pura ilusão criada para vincular os sujeitos a se sujeitarem a todas as formas de humilhação e destruição do que seja humano.
Maior que a utopia, maior que a mera discordância, a ilusão como referencia de existência traz a tona conflitos que não existem, discordâncias não discordantes e contraditórios como contrários.
Alimenta o conflito de todas as formas possíveis justamente onde não há conflito, e através da ilusão de protagonismo partimos para a batalha buscando vencer e destruir os que se opõe ao pensamento revolucionário de necessidade ideal.
O conflito assim alimenta o sistema que diz buscar destruir.
A ilusão é saborosa e alienadora de constantes incentivos cognitivos.
Como uma droga apregoa o refreamento da essência que deveria permear tudo o que foi criado como sociedade e principalmente do que seja o humano.
O sujeito político passa a ser o sujeito conflito, não dando mais margem para a própria essência do humano, que deveria buscar no escutar, no outro, no diferente a apregoação do próprio eu, pois sem o outro não existe o eu, sem o diferente não existe o individuo.
Somos portanto o cotidiano, repetitivo e desmembrado para a própria solidão, onde nossa salvação é o outro, onde a angustia que temos em essência se ameniza no olhar do outro.
´´ Atire a primeira pedra! ´´
Aquele que nunca errou pode condenar o outro ou continue sua própria repetição e veja se não é dura demais, se não é difícil demais segui-la sem o erro e sem que o outro aceite seu erro.
Não há maior definição de amor do que o perdão do outro sobre os nossos próprios erros.
O amor é, assim, a essência do que seja o alivio da angustia na existência.
Só assim teremos, na repetição da angustia solitária que teremos o verdadeiro amor como perspectiva de salvação!