No meio do céu
Nesta noite eu saí pela janela
Voei até o meio da cidade
Até o meio do céu
E vi que o mundo estava vazio
Só havia eu no mundo
Que tédio
O vazio que eu sentia
Era o vazio do mundo
O vazio de tudo
Eu estou sozinha
Sempre estive
E inventei pessoas
Pra não me sentir sozinha
Inventei coisas
Inventei situações
Inventei uma vida
Que chamei de minha
Inventei sorrisos
Que chamava de alegria
Inventei manhãs frescas
Que chamava de dia
Inventava noites frias
Que chamava de descanso
E minhas mãos vazias
Tentavam capturar
Alguma alegria
No ar
Eu sei
Todos querem apenas ser felizes
Mas quem consegue?
A música ressoa comigo
Eu ressoo com ela
Além dela nada tem sentido
Além dela nada é vivo
Nada está vivo
Nada me faz ser real
Nada me faz companhia
A morte
Quem tem medo dela?
Quem não a deseja?
Estamos em uma longa espera
Esperando para sermos sorteados
Que tenhamos sorte
Uma hora ela chega
A esperança é a última que morre
Até parece que sou a esperança
Uma ironia da vida
A esperança não morreu
Mas não foi por falta de querer
Não é também um querer morrer
Mas um não conseguir viver
A esperança é a ilusão
Como a vida
Como o si-mesmo
Que se apega a si mesma
E não vive sem si
É uma linda prisão
Para todos os que a querem
É um conforto para quem merece
Eu não mereço a esperança
Mas busco essa prisão
Todos os dias
Todas as noites
Até que um dia
Eu não possa mais acordar
Nessa ilusão