Esperança

As últimas semanas foram intensas e estava perdida em meio a uma nuvem negra que não me deixava enxergar o que estava diante de mim. Entrei num conflito entre a Giu do passado e a Giu do presente a partir do momento que pela primeira vez encontrei vazio o meu famoso “potinho da positividade”.

Não estava conseguindo aceitar o fato de que já não sou a mesma pessoa de antes, especialmente de antes da pandemia, alguém que sempre tinha uma palavra de conforto ou que sempre enxergava um ponto positivo por pior que fosse o cenário.

Vi-me sem energia para tal, exausta das redes sociais, sem forças para conversar com meus amigos, pois estava com vergonha de ter “perdido a batalha” para a vida e ter de admitir isso a eles e a mim mesma. Não via razões para me alegrar ou mesmo para dizer que tudo iria ficar bem, pois é como se pela primeira vez tivesse perdido o controle sobre tudo e não poderia garantir isso a ninguém, nem a mim mesma.

Comecei a sentir falta da Giu do passado que possuía essa virtude de acreditar no bem e na mudança para melhor das situações. Sim, eu perdi a minha fé. Entrei em desespero e me revoltei contra o universo, contra a espiritualidade, contra tudo que costumava acreditar. Era possível até que estivesse começando a entrar num processo depressivo.

Mas por mais que eu lutasse contra, por mais que insistisse em me colocar num papel de vítima, eu sei que a espiritualidade nunca me abandonou, se não eu não estaria escrevendo hoje. Não teria forças para isso. Eles me fizeram lembrar de quem eu sou e eu serei eternamente grata.

Neste último domingo, tirei o dia para atualizar minhas séries atrasadas, entre elas Batwoman, a qual já estava decidida a abandonar por conta do roteiro exaustivo e repetitivo que foi ainda mais prejudicado pela saída da protagonista da série e a consequente “suposta” morte da personagem principal, Kate Kane. Calma, eu vou chegar lá...

Nesse último episódio, finalmente é revelado que Kate Kane de fato está morta e seu corpo é velado. Até aí, tudo conforme o esperado... No entanto, nos minutos finais, naquilo que chamamos de “plot twist”, numa reviravolta surpreendente, o novo vilão da série é apresentado e é ele quem agora mantém Kate Kane (que não morreu) em cativeiro.

Então, nas legendas finais, a equipe de tradução escreveu que uma nova atriz irá substituir a anterior e Kate Kane voltará ao enredo da série, agora como papel secundário já que o manto da Batwoman tem dona!

Isso pode parecer a maior besteira do mundo, mas alguma chavinha virou aqui dentro, o “plot twist” da minha vida aconteceu.

Coincidentemente ou não, assim que esse episódio acabou, me emocionei ao fechar a janela do meu quarto e me deparar com o céu vermelho, a cor símbolo da Batwoman.

Esse episódio me fez lembrar-se do que os heróis representaram para mim a vida toda: Esperança. Logo eu pensei: É isso, preciso resgatar o pouco que ainda resta de esperança dentro de mim e fazer valer à pena. Posso ser ingênua por acreditar que posso viver um romance clichê Netflix, mas não por acreditar que o ser humano pode mudar.

O fato é que já há muito tempo notei que tenho certa dificuldade em balancear a vida, em encontrar um equilíbrio das forças. O famoso “8 ou 80”. Não é à toa que caí nesse poço e fiquei nele por um bom tempo devido a uma sequencia de idealizações e frustrações. Estou aprendendo a manter um dos meus pés no chão e tem sido uma descoberta dolorosa, porém necessária.

Eu sei que o mundo está caindo em cima das nossas cabeças, mas quer um conselho? Pratique a gratidão e tente viver um dia de cada vez... OK, foram dois conselhos, acho que já estou voltando a me reconhecer.

Se cuidem.

Giulianna Loffredo
Enviado por Giulianna Loffredo em 07/04/2021
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