Socialmente inato
Olhando aqui essa tela me deparo com mil possibilidades e zero soluções. Aqui neste quarto o espaço é vazio, mas está cheio de idealizações. Aqui a luz do teto está acesa junto com a fagulha delusória que me faz olhá-la apaticamente. Nenhum pensamento se mantém estável, tudo se esvai como lixo descartável. Informações em pixels a esmo daquilo que não preciso e daquilo que não é. A modernidade se transformou no ranço semanal que todos nós sentimos logo ao abrir os olhos ao acordar, nada é tão banal como agora. Não há literatura que exprima par excellence algo novo que nos cative. A tecnologia e ciência atualmente nos dão as respostas e às vezes soluções de problemas que elas mesma criaram.
Todo pensamento novo parece ser reformulação dianteira daquilo que já o antecedeu, não há escrita que faça o tédio intelectivo desaparecer, assim como esse escrito é para aqueles que já pensaram igualmente de alguém que já pensou o mesmo. A música hiperinformativa não nos erudita naquilo era necessário: nem mesmo a alta erudição já nos é útil na medida que a modernidade necessita de novas proveniências em nome do bem-estar social e harmonização coletiva entre seres. Nem mesmo a primeira arte é levada como ressignificação do belo, então quem dera as outras artes. O espírito de mudança me é rasgado do corte da minha realidade quando deparo que não existe mais força patriótica, nem nacional, nem espiritual nesta modernidade; entram em suas regiões, quebram suas tradições e desposam seu orgulho. Tudo o que é outrora é expelido à força, até o intencionar ‘’o outrora foi melhor’’ é ofensivo. Não importa o que você sinta com isso, claro, tudo em nome do bem-estar social.
Este é um recorte intencional daquilo que me é mostrado através da folha vívida que são meus pixels. Não sei de nada, talvez tudo isso seja um teatro para nos preocuparmos com esse problema que é o tédio, se é que é realmente um problema. Chegamos ao ponto que vivemos lutando pelo capital, tudo em nome do capital, o que é meramente ridículo. A mercadologia humanitária, onde você é aquilo que valores depois da vírgula te determinam. O resultado é óbvio, não é necessário relatar, mas isso é curioso na espécie humana em ver como somos fúteis; em forma cultural nós retrocedemos em níveis animalescos. É importantíssimo ressaltar que não é uma forma tradicional que iria melhorar isso, longe disso, se duvidarmos seria até mais arcaico e mais tedioso do que a contemporaneidade. Os tempos antigos foram feios e mais duradouros para aprendermos com nossos erros.
É curioso observar em uma ótica mais fria e impessoal na forma como tudo o que foi e como chegamos aqui, horas de trabalhos para um vírus nos estagnar e deixarmos de mãos abanando. É curioso perceber que ficamos atentos aos números de mortes por pandemias, mas no dia a dia antes delas (pandemias) vemos esses números e quiçá mais altos e ignoramos. É curioso ver nem mesmo o alto nível sofisticado da ciência ainda conseguimos parar um simples vírus impetuosamente e agilmente como poderia ser. É curioso o homem em quarentena enfrentando ‘’seu maior monstro’’: a si mesmo; o homem enquanto ser evoluído ao se deparar com tudo isso, percebe que seu próprio pensar isolado em sua residência é um mal inigualável, ele vê que pode se encontrar na mesma situação minha que supracitei no primeiro parágrafo deste texto. Ele vê que o dinheiro com toda sua luta infindável pelo capital, não só para pagar seus impostos como financiar qualquer outra coisa na sociedade, pode demorar para ajudá-lo ou nem sequer dar atenção a ele quando ele mais precisa.