Uma visão sobre o poder

O que é sucesso?

A sociedade moderna (digo, há milhares de anos) nos ensina e impõe que sucesso seria ter muito dinheiro, posses, estar acima dos outros. Aí, já coloco uma questão: Quem seriam os outros, a quem temos que nos sobrepor?

Os vizinhos?

Os funcionários da empresa onde trabalhamos?

Os parentes?

A população do bairro...da cidade...do país...do mundo?

Se consideramos que Poder seria a capacidade de se atingir o Sucesso, a visão de sucesso, acima, nos induz à visão de que Poder é a capacidade de se prevalecer sobre o outro...pra um vencer, outro tem que perder.

Nesse sentido, estamos vivendo num mundo (num sistema de atitudes) de "vencedores" e "perdedores"?

Haveria limite ou referência pra essa visão de poder?

Essas questões já demonstram que essa visão de poder não se justifica, se pensarmos na humanidade.

Todos querem justiça e respeito aos seus direitos, mas como garantir isso, se a visão de poder e de sucesso acima já traz, na essência, a opressão ou a subjulgação do outro. Pior ainda...quanto mais poder se deseja ou se tem, mais "perdedores" se cria...até que se tenha, numa utópica e hipotética condição de sucesso total, apenas um "vencedor" e mais de 7 bilhões de "perdedores". Onde estão a justiça e o respeito, então?

Seria esse o caminho para uma sociedade justa?...Seus direitos estão sendo respeitados?

Respeito não é apenas a forma delicada ou polida de se comunicar com outra pessoa, como num atendimento dos SAC ou no início de uma carta, onde colocamos "Prezado Sr." ou "Querido...". Isso só faz sentido se estiver condizente com o real sentimento e apreço que temos pelo outro.

No mundo das corporações (um dos símbolos de poder e sucesso que se impõe nesse sistema em que estamos), se fala muito em atender ao cliente..." ouvir" o que o cliente "deseja". Mas isso é verdade? Não estaria aí uma oculta maneira de subjulgar...de se obter mais poder sobre as pessoas? ...Para se vender mais, ter mais poder no mercado (sobre as pessoas, aqui tratadas apenas como potenciais compradores, chamados de "clientes")?

Eu, como cidadão ou como "cliente", não preciso que me bajulem com um monte de formas de linguagem e falsas vantagens empurradas para me iludir. Quero respeito no sentido amplo e real da palavra...quando se cria, e se coloca à minha diposição, um produto, um serviço ou uma ideia (ex.: uma propaganda).

Isso vale pra tudo... uma proposta "religiosa", uma oferta de emprego, uma promoção... um cafézinho.

Então, voltando aos conceitos de "Sucesso" e "Poder", quais seriam os princípios para se ter uma sociedade realmente justa?

Como prezar e valorizar a humanidade...a natureza?

Creio que o caminho é usarmos o poder verdadeiro, que cada um de nós tem na essência. Esse poder nos foi dado e nos é cobrado, mais cedo ou mais tarde. Uns chamam de dádiva, outros de talento e, ainda outros, de dom. Haveria outro sentido pra termos esse Poder, se não o de ajudar o próximo ou servir à humanidade?

Não falo de religião, nem pretendo invocar conceitos côsmicos, tampouco quero ser demagôgo, mas creio que essa seja a lei natural. Cada um tem seu "Dom" ou "Poder" para contribuir com a humanidade e com a natureza...nascemos para isso e quando nos afastamos disso, desviando nosso poder para obter falsos "ganhos" sobre um semelhante, ou buscamos vantagens egoistas, desrepeitando algo natural ou alguém, causamos um sério dano à humanidade, à natureza e, consequentemente, a nós mesmos e aos nossos descendentes.

Como disse, não falo de religião, mas aquela história de "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo", no meu entendimento, é a base de todos os conselhos, mandamentos ou, caso queiram chamar, a "ordem natural da humanidade".

A violência gera violência, a competição gera "vencedores" e "perdedores", a "riqueza" gera a "pobreza" (com a mesma quantidade de valor). O que estamos globalizando?

...a divisão e o compartilhamento de recursos entre os povos, ou a cultura de subjulgação? ...de "poder" para se ter mais, enquanto outros têm cada vez menos?...essa globalização não seria a colonização mundial, pelos grandes capitalistas?

Símbolos de poder, seja econômico, social ou religioso, enraizam no povo a ganância e a vaidade, ofuscando os reais valores que podem levar ao verdadeiro, legítimo e prazeroso "Sucesso".

Agora, depois de atingirmos referências nacionais de "campeões", passamos a outro nível de ganância...dominar o mundo. Isso é ou não é uma confirmação de que estamos no caminho da perdição?

Trata-se dos cavaleiros do apocalipse, de profecia?

Não podemos afirmar com certeza, mas podemos raciocinar e entender que não é bom para a humanidade.

Produzir armas com o propósito de matar nossos semelhantes, buscar sucesso na derrota do outro...isso não pode ser o que se espera do ser humano.

Estamos num sistema em que um médico é valorizado pelos prêmios que conquistou e não pelas vidas que salvou. Um engenheiro só é vitorioso se for executivo...CEO da companhia, não pelos projetos e obras que implantou.

O único "dom" que se valoriza é a habilidade de ganhar dinheiro...de se atingir a fama (ser mostrado na mídia... TV, cinema ou na web).

O sucesso de um artista plástico, por exemplo, não seria a conclusão de uma obra prima, que materializou com seu dom, mesmo que a doasse a alguém sem qualquer valor cobrado?

Mas não é assim para o mundo capitalista que nos tornamos...o sucesso desse artista só será reconhecido, se sua obra for avaliada em milhões de US$. E o pior... isso pode ocorrer apenas após sua morte. Ou seja, alguém pode viver uma vida de insucesso ("perdedor") e, após morrer, ser visto como um sucesso ("vencedor").

Faz sentido?

Faz sentido canonizar uma pessoa após anos de sua morte?....chamá-la de santa?

Não é em vida que se faz o bem?...Que se compartilha o dom...o poder?

Muitas pessoas idolatram outras. Precisam de ídolos...símbolos de sucesso, pois precisam ver o sucesso nos outros...não enxergam o seu poder de ter sucesso no hoje, no agora...sem $ ou sem créditos. A satisfação de ajudar alguém, de concluir um trabalho, cantar, construir, cozinhar...escrever um poema.

Qual o verdadeiro sucesso de Michael Jackson? Foi os milhões que faturou, ou o título de rei do pop?

Creio que não.

O dinheiro vindo de seu "poder" vai continuar enchendo o bolso de muita gente, mas o talento colocado em suas músicas e a forma pessoal de criar passos de dança...isso é o real sucesso. Não tem preço. É o poder dele, unicamente dele, doado à humanidade.

Todos temos um ou mais dons...esse é o nosso poder. Vem de Deus e da natureza, não do preço que pagam ou dos concursos que criamos para apontar um vencedor. Pro mundo ser bom e justo, não pode haver vencedor.

Da mesma forma que o poder, o "merecer" também está distorcido pela sociedade mundial, globalizada. É claro que ainda há o reconhecimento real do conceito de merecimento à margem do sistema formal e dos esquemas que conduzem nossa convivência social. Mas, estamos sendo levados pela "meritocracia", baseada no capitalismo que justifica o raciocínio de que um é melhor do que o outro e todos temos que provar isso em cada aspecto da vida. Temos que merecer mais do que o nosso "concorrente" e todos seriam concorrentes...o vizinho, o colega de trabalho, o dono da loja ao lado, o galã da novela, a musa do comercial, o outro país. Isso é coerente, se somos todos iguais perante a Deus (ou perante à natureza...o cosmo, para quem não acredita em Deus)?

Alguém mereceria mais do que o outro porque trabalhou mais, ou porque nasceu em berço de outro, ou porque tem mais facilidade com números ou com a lábia?

Se Deus (ou o cosmo, ou as forças do universo) te deu mais do que a outro, quão maior seria seu poder e seu merecimento, em relação ao seu próximo? Se um não é capaz de dividir, compartlilhar, o que esperar dos outros?

Faz sentido um ter mais, enquanto muitos tem pouco? Faria sentido, sim, ter mais, se todos tivessem o suficiente. Não é humano (sentido natural da palavra) se obter muito às custas da pobreza de outros. Alguém merece ser explorado, seja qual for o motivo? Há justificativa para isso? Infelizmente, sim....a meritocracia...o capitalismo...o forte derrubando o fraco (quando deveria, sim, ajudar).

Os valores que nos ensinam quando crianças, nos são negados quando adultos. Ajudar os mais necessitados ou oferecer o ombro a alguém, só é plausível para com desconhecidos ou por caridade hipócrita, como doar dinheiro a uma instituição de caridade ou ajudar alguém que não se conhece. Difícil é ajudar a quem conhecemos e temos como concorrente, a quem julgamos ou a quem de alguma forma, acreditamos, que nos prejudicou, mesmo que não tenhamos confirmação disso. Assim que queremos evoluir?

O policial, de quem esperamos apoio e dedicação, o médico, a quem confiamos nossa vida numa mesa de cirurgia ou o vendedor, do qual esperamos honestidade no produto ou serviço prestado, estariam a nosso dispor para tudo isso, estando nós engajados nesse sistema capitalista? Ou seriam igualmente concorrentes no capitalismo, na meritocracia, fazendo o possível para ter mais do que você?

E o bandido, que nos ataca, rouba e mata, teria menor papel nessa busca do "merecer", do "poder"? O mundo não seria de quem "pode mais"? "Merecer" não estaria atrelado ao sentimento de "preciso ter mais", "eu mereço mais do que o outro"?

Não pretendo parecer comunista ou que me estampem qualquer outro rótulo que se aplica para distinguir uns dos outros, apenas gostaria de resgatar os valores que nos ensinam quando crianças, ou talvez aquilo que já vem programado na mente de todo ser humano, que podemos chamar de consciência, ética, moral, amor, humanidade...como queiram.