O papel do artista
Artistas são como Deuses: ao criar sua obra se imortaliza na obras e imortaliza a cena que pintou. Exemplos: quem saberia da existência de Dr. Gachet se Van Gog não o tivesse imortalizado numa tela? E aquela, e não outra, Noite estrelada, que inspira poetas e cantores. Mona lisa, com seu misterioso olhar, causaria tantas perguntas, se Da Vince se dedicasse somente a seus inventos? Basquiat, um ícone da pós modernidade, não seria, talvez, mais um negro de Nova York, se suas pichações não denunciassem a marginalização do povo negro. E se, adestrado como queria o sistema, se calasse e as cenas que deixou espalhadas nos muros e paredes da metrópole, fossem apenas divagações esquecidas nos mais recônditos cantos daquele inquieto artista que se desnudou em inesquecíveis fragmentos. E na escultura, quem teria ideia da perfeição humana, sem o David, de Michelangelo, ou, quem ignoraria a introspecção de O Pensador, de Rodan? Alguém conseguiria imaginar a comunicação Divina e o Homem, unidos, criador e criatura, se a Capela Sistina fosse apenas uma elucubração filosófica e o teto da Capela, no Vaticano, não passasse de uma exigência arquitetônica? Saberíamos o alcance de um Grito, se Monck não desse suas pinceladas? Veríamos a beleza das Ninfeias se Monet, distraidamente passasse por elas e não as visse belas em contraste com a luz que se dissipava? E os traços assimétricos e incompreensíveis dos expressionistas se olhados de perto. Se olhados à distância, revelam o sentido preciso e encantador que só o Artista foi capaz de eternizar . Que papel cabe à Arte na existência humana? Será o de nos mostrar nossa fragilidade ou de nos lembrar que se o mundo for um quadro, somos personagens associados com tudo que nela há. Nos lembra que dos traços do pintor, passado e presente, tão logo se cristalizam na tela, esse já não o é, será para todo o futuro aquele tempo e aquela cena imortalizados. Assim dito, qual o papel do artista? Será, como um demiurgo, o de reconstruir em nossas sensibilidades o fio condutor que nos liga a algo que esquecemos desde que nos reconhecemos seres superiores? Ou será apenas, e só apenas, ser o papel do artista o de no nos dizer que como tal, o artista e a Arte são o antídoto para o esquecimento.