Saber partir

Onde está a sua dignidade, moça? Por que você se empenha tanto em entregar seu coração e suas palavras mais doces para quem faz pouco caso? É tão humilhante assim suportar a solidão? O silêncio aflige mais do que a rejeição?

Por que você olha tanto para trás? Por que é tão difícil aceitar o seu destino? É pelo desejo vaidoso de estar no controle? Pela arrogância de querer que tudo seja do seu jeito? E se o seu querer não passar de uma ilusão?

Onde está o seu amor por você mesma? Sufocado pela necessidade de aprovação alheia? Enterrado junto com a dignidade? Ou é mais atraente encarnar o já desgastado papel da adolescente revoltada com o mundo, que se odeia e se sabota para estar em alta conta sob os olhos daqueles que se deleitam com o espetáculo em busca de atenção?

Porque se você se amasse, não se exporia a situações de mendicância afetiva, aprenderia a sair de cena antes de as luzes do palco se apagarem, tampouco aceitaria menos do que merece.

Você morre em vida almejando o amor de quem nunca te amou e nunca irá te amar, o presente nunca será o bastante, porque é sempre mais interessante rejeitar quem pronuncia as verdades doloridas, quem realmente te enxerga, te valoriza, possuindo apenas o "defeito" de não ser quem você queria que fosse e não dizer aquilo que seria mais agradável aos ouvidos.

Em virtude da propriedade libertadora, a verdade ceifa crenças ilusórias. Pior do que ela é uma vida em vão, buscando miragens e negando o óbvio. Saber partir é um ato de amor sem efeitos colaterais. Suas asas não mensuram quão longe podem ir se acaso se abrirem e seguirem na direção do sol.

Você ao menos já tentou?

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 23/03/2021
Código do texto: T7214039
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