Atravessar

Avistei uma menina correndo esses dias na orla de Boa Viagem.

Ela aparentava uma expressão de tristeza, apesar da máscara que cobria o seu rosto.

Os olhos marejados comunicaram muita coisa naqueles pequenos instantes.

Vi, também, uma moça sentada na areia, na praia de Icaraí, olhando para o céu com muita insistência.

Decidi olhar também e vi muitas estrelas, além da lua minguante tomada pelo empréstimo da luz solar refletida fortemente.

Tentei imaginar o que se passava em sua cabeça.

A verdade é que encarar um pedaço do universo potencializa o surgimento de tantos outros dentro da gente.

Quando avancei, ouvi uma outra mulher cantando.

Ela fazia, ao mesmo tempo, vários gestos, falando consigo mesma de diversas formas.

Uma conversa fluida e de descobertas internas talvez.

Havia, também, uma que suava sem parar.

Respirava fundo e soltava, no desespero da ausência de fôlego, todo o ar, como se fosse o último suspiro de vida.

Tudo muito intenso ao seu redor.

No decorrer, a gente toda estava passando meio indiferente, desapercebida pela outra gente.

Ou foi o que me pareceu pelo menos.

Eu conheci a primeira, a segunda e a terceira meninas. A outra mulher também.

Variações, mutações, atravessamentos.

Desconhecimento na brevidade dos conhecimentos.

No fim, há mais perguntas do que respostas para toda essa coisa viva.

Mariane Amaral
Enviado por Mariane Amaral em 21/03/2021
Reeditado em 21/03/2021
Código do texto: T7212092
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