Atravessar
Avistei uma menina correndo esses dias na orla de Boa Viagem.
Ela aparentava uma expressão de tristeza, apesar da máscara que cobria o seu rosto.
Os olhos marejados comunicaram muita coisa naqueles pequenos instantes.
Vi, também, uma moça sentada na areia, na praia de Icaraí, olhando para o céu com muita insistência.
Decidi olhar também e vi muitas estrelas, além da lua minguante tomada pelo empréstimo da luz solar refletida fortemente.
Tentei imaginar o que se passava em sua cabeça.
A verdade é que encarar um pedaço do universo potencializa o surgimento de tantos outros dentro da gente.
Quando avancei, ouvi uma outra mulher cantando.
Ela fazia, ao mesmo tempo, vários gestos, falando consigo mesma de diversas formas.
Uma conversa fluida e de descobertas internas talvez.
Havia, também, uma que suava sem parar.
Respirava fundo e soltava, no desespero da ausência de fôlego, todo o ar, como se fosse o último suspiro de vida.
Tudo muito intenso ao seu redor.
No decorrer, a gente toda estava passando meio indiferente, desapercebida pela outra gente.
Ou foi o que me pareceu pelo menos.
Eu conheci a primeira, a segunda e a terceira meninas. A outra mulher também.
Variações, mutações, atravessamentos.
Desconhecimento na brevidade dos conhecimentos.
No fim, há mais perguntas do que respostas para toda essa coisa viva.