"Tire o sapato. Viva um pouco"
“Tire o sapato, Ari. Viva um pouco”.
Esse é um dos meus trechos favoritos do livro “Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo” porque nos incentiva a nos afastarmos, ainda que por pouco tempo, das muitas convenções que nos cercam e ditam nosso modo de viver. Nessa de estarmos sempre calçados, porque alguém disse que o contrário não é adequado ou certo, perdemos a oportunidade de sentirmos o chão, a areia entre os nossos dedos, a grama acariciando nossa pele, o frescor levando para longe a opressão de termos os nossos pés constantemente aprisionados. É claro, em alguns momentos os sapatos são indispensáveis, mas não em todos. Isso é uma bela metáfora que pode ser aplicada em muitos contextos das nossas vidas.
E quando nos afastamos dessas muitas regras, dessas convenções que foram repetidas ao longo dos anos, passadas de maneira incontestável de geração em geração, conseguimos respirar, conseguimos sentir a vida, conseguimos enxerga-la com as nossas próprias lentes, livres de filtros alheios, de distorções a nós empurradas, livres para que possamos formar nossa própria opinião sobre as coisas que preenchem o mundo, que ornamentam a vida, que permitem que os horizontes a contemplar não sejam sempre os mesmos, mas que tenham algum diferencial que atraia nossa apreciação. Em certos momentos tirar os sapatos pode ser a nossa melhor escolha.
Quantas experiências deixamos de provar. Quantos sorrisos deixamos de dar. Quantas músicas deixamos de dançar. Apenas porque alguém disse que não deveríamos, alguém disse que não seríamos aceitos, alguém disse que estaríamos condenados à nossa própria solidão. Será mesmo? O que são as convenções, passadas inquestionavelmente, se não formas de controle e opressão? Por que elas precisam se sustentar no medo da não aceitação, da não aprovação, de uma condenação que nos atormentará por uma eternidade? Coisas realmente boas não impõem medo. Coisas realmente boas são vividas apenas por isso, porque são boas.
Que tenhamos coragem para viver de verdade. Para romper as fronteiras. Para experimentar as bandas para além dos limites. O que pode acontecer de tão terrível? Descobrirmos que o outro lado, onde os sapatos não são obrigatórios, uma vida de verdade acontece? Por que aqueles que são livres dos sapatos são tão temidos? Porque eles tiveram a sorte de entender que a vida não precisa ser tão rígida ou inflexível, que ela aceita infinitas possibilidades e que cada um tem o direito, se não o dever, de optar por aquela que melhor o agrada. Porque tiveram o prazer de entender que ninguém pode dirigir a vida de ninguém!
(Texto de @Amilton.Jnior)