A Última Vez

A gente vive ansioso pela primeira vez. Há sempre toda aquela construção, até mesmo fantasiosa, sobre o primeiro beijou ou a primeira vez na qual teremos um encontro tão íntimo com alguém que amamos. Também há grande ansiedade pelo primeiro dia na escola, pelo primeiro dia no emprego novo, por aquele tão sonhado primeiro encontro. Nossas primeiras vezes são sempre tão carregadas de emoções, intensidades e interesses, é uma pena que as demais vezes não sejam tão valiosas quanto as primeiras. Chega uma hora que os beijos já são dados por puro costume, os encontros já se tornaram clichês, as reuniões com os amigos se tornam previsíveis, os dias de aula são cansativos e os dias no trabalho passam sendo empurrados para acabarem logo. E assim vamos vivendo nossas vidas. Desperdiçando os momentos, desvalorizando os instantes, deixando que os instantes passem como se fossem apenas isso mesmo, passageiros. Mas, então, quando a última vez acontece, a gente se arrepende. Poderíamos ter feito diferente, vivido com mais vontade, beijado com verdade, abraçado com amor, demonstrado para as pessoas o quanto elas eram realmente especiais. Não deveríamos ter sido tão frios em nossos “bom dia”, tão distantes em nossos encontros, tão distraídos em nossas carícias. Deveríamos ter participado do presente, não apenas com o corpo, mas principalmente com a alma. A gente nunca sabe quando será a última vez, quando tudo acabar.

Já parou para pensar nisso? Já imaginou que um dia você não terá mais o seu grande amor para encher de beijos apaixonados e cócegas de pura diversão? Já considerou que um dia aquele amigo tão especial não poderá mais lhe enviar as mensagens de bom dia que você simplesmente ignora? Já foi confrontado com o fato de que aqueles seus companheiros de trabalho, que mal escutam o seu inaudível cumprimento, um dia poderão ser apenas lembranças, recordações de pessoas que eram interessantes, mas que você deixou que elas simplesmente passassem sem deixarem um pouco delas e levarem um pouco de você? Não seremos eternos, a última vez chegará, o último dia é uma determinação, talvez a única forma que temos de prolongar um pouco mais a nossa existência nesse mundo seja deixando boas marcas nos corações daqueles que cruzarem o nosso caminho. Mas isso só será possível se vivermos cada momento com a mesma ansiedade e vontade dos primeiros momentos.

No final o que importa não é como começamos as nossas histórias, mas como as estamos encerrando. Do início poucos se lembram, às vezes nem mesmo nós vamos nos lembrar de como pessoas tão especiais apareceram em nossas vidas ou de como conquistas tão importantes foram capazes de acontecer. Mas o início não importa, o importante é aquilo que ele nos trouxe. E, então, como será o desfecho da sua história? Como será o seu último suspiro? Terá sido o encerramento, o ato final, melhor do que o ponto de partida? Espero que possamos evoluir a cada dia para que possamos partir melhores do que chegamos!

(Texto de @Amilton.Jnior)