Solidão
O isolamento nos tortura. Na realidade, apaga desejos, traz memórias, cria ilhas. Mostra quem realmente somos. As famílias finalmente se conhecem, mas nem sempre se reconhecem. Obrigadas a conviver por proteção, amor ou necessidade. Não, tiremos o amor dessa lista. O amor não obriga, consola; não cobra, apoia. O verdadeiro amor não exige. O vírus, sim. Irônico e trágico, um organismo minúsculo ensinar ao poderoso ser humano o que é o amor a si e ao próximo. Ninguém está invencível, ninguém está intocável. Estamos distantes, diferentes, mas nivelados por uma fragilidade física e emocional nunca antes vista tão claramente. Inúmeras vidas se perdem em instantes, o mundo continua a girar, claro, porque "ninguém é insubstituível". Somos números ou pessoas? Devemos ter medo, ou enfrentar sem pensar? Como seguir adiante? Sabemos que o sol vai voltar. E os pássaros cantarão. E o vento movimenta a vida, que segue, sempre, com ou sem a nossa presença. Fomos desconstruidos, atacados, violados. Nosso futuro e nossos planos, roubados. Isso só pode ter uma razão: fazer-nos retomar o caminho. Escolher a estrada certa, que talvez, um dia, nos permita abraçar com liberdade.