Limiar
E eu digo: não há pedra mais sólida que não resista a água. Não há mais estrelas no céu que iluminem mais que a verdade. Nem o astro Sol será capaz de ofuscar a beleza sincera da palavra amiga. Eis aqui, sem tentativa de conter minhas palavras, meu testemunho de um tempo, que o dito, como a marca no couro do boi, fincasse raízes tão profundas que se imaginava idestrutível. Mas não. Bastava uma corrente de água mais forte, mais decidida, mais sabedora de sua força, para arrastar às mais fortificadas cosntruções. Bastava um declive mais íngrime para que a frondosa árvore, centenária às vezes, não resistisse e tudo virasse folhas e gravetos retorcidos. Não há segredos que se ocultem por toda existência. Nada se guarda sem que se possa ser mostradado. Vejam os envanjelhos do Mar Morto? Quem imaginava sua descoberta depois de tantos séculos. E a Repúlica, de Platão, quem diria ser capaz de sobreviver por mais de 2300 anos! As peças de Ésquilo, quem imaginava, a seu tempo, serem elas fundadoras do Teatro moderno? Pois que seja. Que se entenda que nem a rocha mais compacta consegue vencer a água que bate. Eis minha sentença, proferida no limiar de uma existência tão duradoura como um pingo na areia. Eis - me aqui, como um garoto assombrado pela beleza do primeiro beijo, e sem resistência e entendimento do que exatamente sentia, entregou-se de corpo e sem alma, como o condenado ao carrasco, às mais destemidas carícias nunca antes vividas. Dito isso, o velho fechou o livro, e como Sócrates, sem remorso ou desejo de vingança, deitou e fechou os olhos.