SAUDADE IMORTAL
O tempo coze ardilosamente e pacientemente tanta coisa, qual a gota de uma torneira, qual um piscar de olhos...E sequer percebemos que somos o ingrediente de seu prato principal. Quais teias invisíveis da aranha que suportam vendavais, caímos nela, como roupa nos varais. A famigerada fome é o tempero principal do tempo que nos consome...É uma ferida que nunca cicatriza é uma espécie de prisão enquanto o destino, nossa absolvição...Não há como fugir ou voltar...só nos resta seguir em frente.
O tempo é esta fenda que abrimos ao rasgarmos a placenta e nos libertarmos da carne, pensando que estamos livres e muito pelo contrário., Estamos agora noutra dimensão, sem o cordão umbilical pela qual respirávamos o que pensávamos ser o mundo. E agora percebemos que o tempo sangra e que só há uma forma de estancá-lo. Cristalizando-o com as gotas perenes de nossa ausência... Pois que ainda assim... Temos a chance de viver este tempo que passou engravidados na mente das pessoas que nos amaram.