A vida nos cai do céu

De repente, abro a janela, olho as gotas de chuva que caem do telhado, se esparramam pela calçada e somem no jardim, onde continuarão vivas nas plantas e na terra. Sinto-me feliz por isso, as chuvas são as lágrimas da vida.

Existe a garoa fina e gélida, o suor no rosto do trabalhador exausto, um choro de saudade, ou o desespero calado no fundo de uma alma infeliz.

Há também a tempestade, uma alegria eufórica ou os vícios de um mundo ferido? A ganância, o ódio, a arrogância e o egoísmo são os piores sintomas dessa doença que corrompe o homem e a natureza.

A chuva que hoje vejo é, particularmente, rara. É a transparência da vida, o espelho do mundo: está presente na criança brincando na rua, que inocentemente recebe os pingos dessa chuva, aceitando com eles também os seus defeitos.

A chuva é o sono do mundo, os sonhos de tantas vidas que nela pisaram, sofreram, amaram e choraram.

Eu sou chuva de dor, e carrego a cruz do destino em meus sonhos.

Eu vivo em mim e você, sou a vida, a esperança e as alegrias do mundo.