Evidências

Há alguns anos a vida encontrou um jeito novo de me colocar diante dela.

Assim, evidenciada.

Há alguns anos eu tive de aprender a chorar enlutada pela perda e me alegrar por celebrar a vida de alguém muito amado. Ao mesmo tempo.

Não é de alguns anos, eu sempre soube valorizar por saber e respeitar nossa finitude.

Isto não precisei aprender, já nasci sabendo.

E olhe, saber isso é de uma sorte danada.

Nunca precisei chorar por não ter dito, não ter ido, não ter estado.

Faço tudo enquanto posso. E enquanto podem.

Choro só pela perda. Que não é só, mas é livre de remorso.

Porque nunca me dei ao luxo de não estar atenta ao que é importante.

Sem precisar perder muito.

Hoje estou tendo de reaprender a estar alegre e triste.

Simultaneamente.

Sei nem se é possível. Tenho tentado.

Sei é que essa façanha não nasci sabendo.

É uma lástima.

Careço de uma espécie de tecnologia onde se pode ter emoções simultâneas e aparentemente contrárias. Só aparentemente mesmo, porque fato é que não são.

Sem achar que deveria estar sentindo só isso ou só aquilo.

Hoje, de novo, a evidência da morte, me colocou diante a evidência da vida

E eu sinto a perda, olhando em volta e me atentando ao que é prioritário viver.

E de certo modo urgente.

E todas as vezes que a dona morte chega a um dos meus.

Eu olho nos olhos dela, sem relutar...

Acolho-a.

Reconheço-a.

E respondo a ela, do meu modo meio torto: vivendo!

E sempre sentindo!

Mariany Mendes
Enviado por Mariany Mendes em 23/02/2021
Código do texto: T7191093
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