Evidências
Há alguns anos a vida encontrou um jeito novo de me colocar diante dela.
Assim, evidenciada.
Há alguns anos eu tive de aprender a chorar enlutada pela perda e me alegrar por celebrar a vida de alguém muito amado. Ao mesmo tempo.
Não é de alguns anos, eu sempre soube valorizar por saber e respeitar nossa finitude.
Isto não precisei aprender, já nasci sabendo.
E olhe, saber isso é de uma sorte danada.
Nunca precisei chorar por não ter dito, não ter ido, não ter estado.
Faço tudo enquanto posso. E enquanto podem.
Choro só pela perda. Que não é só, mas é livre de remorso.
Porque nunca me dei ao luxo de não estar atenta ao que é importante.
Sem precisar perder muito.
Hoje estou tendo de reaprender a estar alegre e triste.
Simultaneamente.
Sei nem se é possível. Tenho tentado.
Sei é que essa façanha não nasci sabendo.
É uma lástima.
Careço de uma espécie de tecnologia onde se pode ter emoções simultâneas e aparentemente contrárias. Só aparentemente mesmo, porque fato é que não são.
Sem achar que deveria estar sentindo só isso ou só aquilo.
Hoje, de novo, a evidência da morte, me colocou diante a evidência da vida
E eu sinto a perda, olhando em volta e me atentando ao que é prioritário viver.
E de certo modo urgente.
E todas as vezes que a dona morte chega a um dos meus.
Eu olho nos olhos dela, sem relutar...
Acolho-a.
Reconheço-a.
E respondo a ela, do meu modo meio torto: vivendo!
E sempre sentindo!