Fazer alguém feliz
Para Freud, cada um deve buscar por si mesmo pela felicidade. É claro que ele tem toda a razão. Não podemos delegar aos outros uma responsabilidade que é intrinsecamente nossa, uma vez que os sonhos que nos farão felizes, os desejos que nos farão satisfeitos, os planos que nos trarão alegrias, pertencem somente a nós, fazem sentido apenas a nós mesmos e seria injusto, além de egoísta, querer que as outras pessoas renunciassem aos seus próprios anseios por capricho aos nossos. O contrário também é verdadeiro. Não podemos rasgar os nossos próprios projetos porque estamos responsáveis pela felicidade de alguém. No entanto, nada nos impede de em algum momento fazer alguém feliz. Não vivendo sua vida por ele, caminhando os seus passos por ele, mas ofertando uma companhia sem julgamentos, uma ajuda sem pretensões, um amor sem condições.
O que mais fazemos é deixar as pessoas tristes. Julgamos seu modo de falar, condenamos sua maneira de se vestir, criticamos sua forma de pensar e tentamos coibir a sua expressão nesse mundo de possibilidades infinitas. Em poucas vezes fazemos as pessoas se sentirem aceitas como são, respeitadas como vivem, valorizadas como se expressam ou acolhidas mesmo com todas as diferenças que possam haver entre nós. Em poucas vezes fazemos alguém abrir um belo, espontâneo e contagiante sorriso. Mas o que nos custaria sermos menos ásperos e mais carinhos? O que perderíamos sendo menos intolerantes e mais compreensíveis? Só teríamos a ganhar se ao invés de uma postura intransigente, assumíssemos um comportamento de abertura às outras pessoas.
Aqueles que estão ao nosso redor, em muitas ocasiões, estão sedentos por uma palavra de ânimo, por um gesto de carinho, mesmo que não expressem, mesmo que não supliquem por isso, mas tenha certeza de que não recusariam o consolo. É uma pena que estejamos tão cegos e centrados apenas em nós mesmos e não percebemos que o outro pode estar passando por uma dor lancinante. Queremos ser felizes, mas o outro também quer. Talvez não devamos ser os responsáveis pela felicidade uns dos outros, mas acho que ao menos podemos nos ajudar a alcançar esse valor tão cobiçado. E talvez a felicidade não esteja exatamente num lugar, talvez a felicidade esteja em saber que podemos contar uns com os outros. E então isso seja fazer alguém feliz: estender a mão para que ele se levante e possa caminhar.
(Texto de @Amilton.Jnior)