Pode ser uma imagem em preto e branco de parede de tijolos e rua
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Tenho me perguntado se certas ocasiões são mesmo reais, ou se ando imaginando, sonhando… Talvez nem mesmo esteja vivo; talvez meu corpo esteja dentro de um freezer em algum lugar... seja um pó num jarro numa mesa de jantar. Ou um esqueleto numa faculdade...

Tanta gente desce essa ladeira que acabam por perder as faces… Mulheres, homens, crianças… depois da chuva a luz de um poste se apaga e tudo fica parecendo meio avermelhado, como se o próprio ar que se respira tivesse sido decalcado a hidrocor....

Senti que havia um grupo de pessoas subindo e quando resolvi olhar, era apenas UMA idosa com a perna enfaixada. Tive a sensação de estar vendo a minha avó Vera, em… basicamente TODOS os dias em que a via. Ela não era bem-humorada pois sentia dor... Mas era uma matriarca e jorrava amor e cuidado por todos os seus poros. Eu não queria que ela tivesse morrido tão cedo. Por motivos egoístas. Pois somente agora, hoje... tenho capacidade e maturidade para conhecê-la, entendê-la, conversar com ela, e possívelmente ouvirmos um disco do Roberto Carlos juntos... mas ela se foi, já há muitos anos.

Mas… é isso, enfim talvez eu não esteja aqui. Talvez eu nunca tenha vindo a Lençóis, sei lá. Às vezes me sinto um espírito que caminha durante a noite e algumas pessoas podem me ver e falar comigo pois são outros espíritos como eu, ou médiuns tentando não me deixar aflito. Só que TUDO em nossos Lençóis é aflição… E quem não vê aflição em Lençóis talvez esteja demais a fazer sinal de “Paz e Amor” ou da Cruz em direção ao lado oposto das dores dos outros.

Tudo aqui é Aflito… E é Bonito… E é Aflito… E é Bonito.