Por que a infância nos marca tanto?
Ao buscar refletir sobre essa inquietação de minha consciência, cheguei a conceber o porquê desse questionamento.
Entendo que a infância nos marca tanto, porque nela o prazer e a emoção de viver a vida é mais intensa, contagiante e platônica diante do sentido que passamos dar à vida quando estamos adultos.
Na infância, tudo parece ser possível...
As coisas mais inesperadas e possivelmente difíceis para serem vividas, parecem cair das nuvens aguçadas pelo lúdico, com todas as possibilidades dos sonhos para sua realização. Nesse ínterim, o lúdico passa a ser algo real, materializando as percepções dos sonhos e da imaginação.
Com isso constatamos que o nosso poder de abstração das coisas e nossa capacidade de superação excedem nossa própria condição de seres “racionais” que somos.
É um espetáculo que a natureza humana nos traz para mostrar como somos especiais e fortes para superar as agruras da vida, e termos forças para encarar uma nova trajetória. Isto é superação!
E não é por acaso que as lembranças da infância permanecem vivas dentro de nós...
Acredito que seja mais uma obra de arte do Criador, nosso Deus, para nos lembrar do quanto somos fortes e capazes de superar situações, com a possibilidade de tornar o inatingível em possível, e os sonhos em realidade, instigando em nossa natureza um constante aprender a aprender...
Mas porque o lúdico?
Acredito que o lúdico seja para dizermos a nós mesmos o quanto se faz necessário se ter sensibilidade para nos tornarmos seres mais amáveis e humanos, e crer que as coisas que não são palpáveis, não estão inseridas no plano da inexistência, mas da possibilidade do real, sem retirar de nós toda ação racionalizadora exigida pela vida.
Crescemos, e ao atingirmos a idade adulta, cheia de regras, compromissos e responsabilidades, por assim dizer, presos ao relógio, põe em xeque nossa natureza da infância, hoje desencontrada com a liberdade.
Acredito que seja por isso que, naturalmente, correspondemos ao sorriso de uma criança quando sorri para nós... Quando caminha em nossa direção e fala conosco... Quando compartilha o que está em suas mãos... Quando se joga em nossos braços, expressando de tantas formas, um convite para voltarmos a ser criança com ela.
E com essas simples demonstrações, percebemos o quanto a simplicidade das coisas, desprovidas de tantos recursos tecnológicos, tantos critérios e exigências de padrões e sofisticação, na verdade, são estereótipos criados pelo homem na fase ausente da infância.
Ausência que precisa se reencontrar para restaurar a alegria de ver a vida com outro olhar, mas com mais simplicidade; e poder degustar o prazer de viver simplesmente, com toda a intensidade de querer ser feliz.
Recife, 18 de fevereiro de 2021.