Assim é a vida
Uma das minhas séries prediletas, “This Is Us”, é também uma das que mais emocionam e encantam ao grande público. É uma história de vida, literalmente. A cada episódio temos a chance de acompanhar a nossa própria vida, o nosso cotidiano, sendo retratado em uma narrativa envolvente e inspiradora. O mais bonito nessa série, claro que na minha opinião, é a mensagem que ela traz por trás de personagens tão bem construídos e interpretados: a de que somos falhos, sujeitos a errar em qualquer momento, mas que também temos a capacidade de voltar atrás e corrigir esses erros. Essa é a vida real. Ela não é feita apenas de bons e agradáveis acertos, de relações inteiramente harmoniosas e pacíficas, ela tem seus percalços, em nossos relacionamentos teremos nossas divergências, o importante é que o sentimento que compactuamos uns pelos outros possa prevalecer e nos dar a chance de pedir perdão sempre que errarmos e de perdoarmos sempre que possível.
Às vezes chegamos a pensar que tudo seria mais fácil se viéssemos a esse mundo com um manual de vivência, ou então já cientes de quais poderiam ser os nossos erros e o que deveríamos fazer para evitá-los, mas a verdade não é tão sedutora quanto essa imaginação. Chegamos aqui completamente desprovidos de qualquer consciência. Mal sabemos que somos um corpo independente: nos nossos primeiros dias pensamos que somos uma extensão de nossas mães. E, então, crescemos, os anos vão se passando e nós vamos construindo a nossa história. Conhecemos pessoas, por algumas nos apaixonamos, montamos nossa família e temos os nossos filhos. E erramos na hora de amar, na hora de ensinar, na hora de oferecer carinho, na hora de oferecer companhia, na hora de retroceder alguns passos para que o outro nos acompanhe, na hora de oferecer nosso ombro para que o outro deposite suas angústias. Erramos de muitas formas porque assim somos nós, errantes, desejosos por melhorar a cada a dia, ao menos deveríamos desejar por isso. E, então, desgastamos nossos laços porque não aceitamos que o outro erre ou não aceitamos que o outro não nos entenda. E insistimos nos nossos erros perdendo, com desentendimentos bobos, um tempo que nunca pare e jamais volta.
Mas precisamos entender que a vida é assim mesmo. Não nascemos preparados para viver, nascemos preparados para aprender a viver. No entanto é nossa obrigação nos dispor a esse aprendizado que virá a nós de diferentes formas: através da pessoa que escolhemos para amar, através dos amigos que escolhemos como a família do coração, através dos pais que a vida nos deu ou dos filhos que o destino nos trouxe, através de uma sucinta e delicada observação da natureza, através das palavras sussurradas de um desconhecido que se sentou ao nosso lado no ponto de ônibus. Esse aprendizado não será dado por um único professor, mas por diversos professores, os mais improváveis, aqueles que parecem não saber nada, mas que nos ensinarão sobre mistérios do coração e nem perceberão isso. Para tanto precisamos nos dispor a esse aprendizado.
E sabe como nos dispomos a ele? Desvestindo-nos de nossa soberba, descendo da posição de “sabe-tudo”, revestindo-nos de humildade e da mesma sede de uma criança: a sede por olhar para o outro e descobrir o que existe nele de tão interessante. Precisamos retirar as escamas de nossos olhos e entender que tudo o que necessitamos para viver está nas coisas mais simples e delicadas da vida, coisas que muitos ignoram, coisas que enriquecem aos poucos que lhes dão a devida atenção!
(Texto de @Amilton.Jnior)