Contatos

Quantos contatos temos nessa vida, meu Deus? Contatos desejados, esperados, outros obrigatórios, facultativos, felizes, enfadonhos, enfim, qualquer um. São contatos de uma vida impossível de ser vivida na solidão. Não queremos depender, não dependemos, mas se dispensarmos todos os contatos, murchamos, morremos.

Desconectar é sair do ar, é perder a consciência, não se importar com julgamentos o que muitos desejam em tese, mas tremem seus corpos por dentro e por fora caso alguém os despreze.

Há contatos de contentamento, de casório, de Natal ou de velório. São gotas que pingam pela vida inteira, areia que escorre o tempo todo, se afunilam ou se bifurcam, os destinos se cruzam e descruzam formando uma teia, parecem ter vida própria, parece que o arbítrio não existe, mas a vontade insiste. Não quero, mas vou. Quero, não consigo. Querer às vezes não basta. Não queiras o que não te pertence, o contato perde a razão, a decência.

Filho, contato eterno, pai e mãe também, não se desgasta. Irmão, amigo imposto pela vida, Amigo, o irmão plantado a cada dia seguido. A amizade plena enfrenta o calor intenso e a nevasca. Daqueles contatos que se procura, mas não se acha. Daqueles que somente basta um olhar e já sabemos o que sente, corpo presente, alma ausente. Às vezes para e pensa: que contato é esse sem limites, estribeiras, aquele que não se interrompe nem que se queira? Decerto é feroz, faz da maior atração o sofrimento mais atroz. Contato que sangra nos poros e nas glândulas, que estrangula até a medula. Valsa ou rock, bailamos juntos nesse contato profundo até que a força se esgote. Até que a sirene toque, até o último batuque, do tic-tac do coração transbordando de emoção digna ou não, até a última anotação no livro do dono do bar do calçadão, até o último contato imediato do enésimo grau. Daí veremos o resultado disso e coisa e tal, do buquê de boas ações e traições que pesaremos no fiel da balança no momento em que seremos examinados para descobrir até onde nosso valor alcança.