As coisas que levarei comigo
Como qualquer outro ser humano, e até mesmo ser vivente, que habita esse planeta, que atravessa por esse plano, que tem contato com essa realidade, eu passarei. E continuarei passando. Até que não possa passar mais e a travessia para o outro lado, desconhecido, se torne uma obrigação. Mas durante essa passagem quero levar comigo os aprendizados que pude ter, os sorrisos que pude contemplar, os amores que pude sentir e as admirações que pude despertar. Quero levar comigo as lições dadas por pessoas que nem me conheciam, as inspirações de pessoas que nunca saberão que um dia puderam me inspirar. Quero levar comigo a beleza de um mundo que tantos insistem em dizer que é horroroso, que é mal, que não nos pertence, um mundo no qual consigo enxergar beleza, atrativos, sobretudo quando vejo pessoas que, assim como eu, fazem o possível para que sua travessia por esse plano seja a melhor possível, que lhes traga evolução, que as faça se tornarem a cada dia melhores e maiores. Quero que a natureza me acompanhe até o último dia, quero que o olhar inocente de uma criança curiosa sempre me encoraje a persistir na busca pelo conhecimento, pela descoberta, pela aventura de conhecer o Universo e bilhões de outros universos que habitam o mesmo mundo que o meu. Quero que os detalhes da vida me permitam entender que a beleza do mundo existe e deve ser apreciada. Quero levar comigo uma experiência valiosa, surpreendente, a experiência de quem se arrisca a viver sem se importar com normas ou convenções, opiniões ou condenações, alguém que só anseia por fazer cada minuto nessa vida valer a pena e se tornar inesquecível. Quero levar comigo o prazer de ter feito o possível para consolar, confortar, ajudar, auxiliar, ser aquele que ao invés de julgamentos oferece compreensão, que ao invés de achismos e suposições apenas quer saber se o outro se sente bem. Quero que as pessoas olhem para mim assim também. Que não se importem com os meus passos ou minhas escolhas, que apenas olhem para mim com sinceridade e me permitam dizer que sou feliz por ser quem eu sou. Quero levar comigo o gosto da chance de ter feito o dia de alguém mais feliz, nem que seja apenas um dia de somente uma pessoa, mas se eu conseguir a proeza de arrancar sorriso em meio a tantas lágrimas, minhas missão já terá sido cumprida. Quero levar comigo a certeza de que a cada manhã me levantei da cama disposto a me tornar uma pessoa mais sábia, mais inteligente, mais entendida. Não apenas no sentido intelectual da coisa, não quero ter uma parede repleta de quadros exibindo diplomas e premiações. Quero ter sensibilidade o bastante para enxergar no outro a mesma coisa que existe em mim: uma alma humana, como Jung pontuou um dia. Quero levar comigo a convicção de que em algum momento, em algum lugar, com alguma pessoa, eu pude ser eu mesmo e permitir que o outro fosse ele mesmo, porque isso é enriquecedor para Rogers. Quero levar comigo a sentença de inocente. Inocente no sentido de ter imposto a minha vontade aos outros, as minhas visões aos outros, as minhas ideias aos outros. Culpado em apenas uma coisa: ter inspirado que outros seres humanos, assim como eu, voassem e permitissem que os outros também voassem porque a vista lá de cima é bonita demais para que sejamos egoístas o bastante para negá-la aos outros. Quero levar comigo todos esses sonhadores que terão tido a chance de viver os seus sonhos, não por minha causa, por eles mesmos, por terem tido a chance de se encontrarem consigo mesmos.
(Texto de @Amilton.Jnior)