Reflexo

Há tempos que eu não pulo carnaval como antes. E também não sinto mais aquele afã pré-carnavalesco. Fantasio. Brinco, invento marchas que nunca serão ouvidas e crio ritmos que nunca serão conhecidos pela massa. Ah essa alegria de SER!

Penso sempre: "Um dia ou outro talvez, brincar para se distrair ou desopilar." Mas, de um tempo pra cá os meus carnavais, tornaram-se festas internas. Sinto que apesar de amar uma boa farra e me divertir, meus interesses mudaram e com o tempo, aprendi a gostar muito da minha companhia. Não preciso mais fugir, não preciso mais fingir. E quando a falta me bate na porta, desafio-me a não ceder. Nem sempre ganho. E nessas perdas, vou errando e errante, dominado pelo desejo árduo de existir entre o mundo estabelecido e aquilo que eu sou. No carnaval do mundo, vão-se as vergonhas, os pecados e os erros. Mas, já não somos isso a todo instante? Já não estamos todos o tempo todo indo? E depois de irmos, voltamos desta catarse vazios como se não fossemos livres. Nem só a "carne vale". Por isso, buscar transcender está mais para um fardo que nos excluí de tudo do que para um presente. De quem queremos nos esconder ao usarmos uma máscara? Ah! Como é difícil estar com a alma exposta ante milhares de máscaras que jogam com o prazer da mentira. Como é difícil não sentir-me suficiente a ponto de precisar rever em mim tudo que o outro não olha. Espelho, diga-me, tu estás aqui ou és miragem fruto de meus pensamentos quiméricos? Perguntou-me para saber como agir sem sentir-me culpado por minhas falhas. Falhas essas, que me mobilizam a adentrar constantemente no bloco eterno e eletrizante do meu coração.

Felipe Paes Monteiro
Enviado por Felipe Paes Monteiro em 12/02/2021
Reeditado em 12/02/2021
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