A Âncora e eu

Depois de tanto tempo o peso já faz parte de mim

Embora eu desejasse, não consegui voar

A Âncora me prendeu ao chão e minha vida foi muito rasa

Em meio século ela mudou de nome algumas vezes

Pais, família, amigos, religião, marido....

Este vento que bate em minhas costas agora

trouxe-me uma tesoura de presente

Com a tesoura em mãos, eu me viro

Olho para a corda que me prende

Eu quero cortá-la, quero voar

Mas o juízo sopra em meu ouvido

A lembrança de que já sou velha

A corda, a âncora, já fazem parte de mim

E em lágrimas me livro da tesoura, me livro da ideia de liberdade

O que era prisão se torna escolha

Continuarei ancorada por mais um tempo

Enquanto o tempo permitir...

Clarice Cândido
Enviado por Clarice Cândido em 09/02/2021
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