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Eu te amo. É isso. Incontestável. Mas eu não devo amar você, seu amor é como uma substância radioativa que corrói quem toca. Ao mesmo tempo que me faz sentir viva me aproxima da morte, da tragédia, da desgraça, e isso meu amor, eu não me permito passar. Não pense que amar você paralisa minha vida ou deixa meus dias cheios de angústia. Não, eu estou bem, estou com outra pessoa até, e tenho sido bem feliz, eu tenho sido eu mesma com ela, o desejo que nunca senti por você eu sinto de maneira inexplicável por ela, o sexo que nunca nos aconteceu, hj acontece e é sensacional demais pra ser verdade. As minhas cicatrizes que pra você era motivo de raiva ou chateação, pra ela é sinônimo de luta, eu a sinto abraçar pequenos fragmentos dentro de mim, coisas triviais e soltas, me faz rir, com uma criança que finalmente consegue a permissão da mãe pra brincar na rua. Mas eu ainda me lembro de você. Da nossa história. Dos nossos dias bons. É assim que um relacionamento tóxico nos deixa não é? Presos em um loop infinito de lembranças de quando ainda não existia dor. Não foi meu primeiro relacionamento ruim. A verdade é que eu realmente acreditei em você, que fosse madura, centrada e só tivesse emocionada por ter se conectado de maneira tão intergaláctica com um ser humano, eu pensei que tinha te acontecido o que aconteceu a mim quando toquei sua pele. Não acredito que tenha acontecido. Você chegou mansa e tranquila, como um rio que corta a nascente sem fazer barulho, mas que na quebra d'água faz um estrago imenso, envolve no seu redemoinho quem tiver próximo e engole para as profundezas, fazendo o pobre mortal implorar pelo ar até você cuspir de volta e dizer que foi um deslize e vai ficar tudo bem. Mentira. Não fica tudo bem. Você afoga e cospe até não haver mais ar nos pulmões da vítima e ela desfalecer ou perceber e correr a plenos pulmoes de você. Se torna tedioso e você vai em busca de outra vítima. Queria ter corrido a plenos pulmoes antes, mas antes tarde do que nunca. Enfim, não quero falar de suas futilidades, você já não me interessa desse jeito. Estou tentando falar de mim, de como me sinto, de como minha mão já não espera mais a sua, e meu coração já não pede seu retorno com boas desculpas e supresas açucaradas pra me ganhar, de como meu nariz já não pede seu cheiro e nem minha boca reclama pela ausência da sua. E deixar você foi uma escolha inteligente, teria sido brilhante se eu não tivesse nem te aceitado de volta quando você veio com suas mentiras ensaiadas e confusões ocultas, mas tá tudo bem também. Eu aprendi. Você para mim sempre será como uma torta de padaria, linda e chamativa, de encher meus olhos, mas estarei de dieta porque será melhor para o meu corpo, recusar a torta é uma ação de preservação para a minha saúde, e você sabe meu bem, no final eu sempre vou escolher a mim mesma.

LicinhaS
Enviado por LicinhaS em 05/02/2021
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